O
golpe de 1964 foi um movimento imperialista, tendo a frente os
militares como instrumento a serviço do capital financeiro e industrial.
O dinheiro que o patrocinou vinha via IBAD e IPES, coordenado pelo general
Golbery de Couto e Silva. Financiavam campanhas parlamentares com
contribuições dos bancos Royal Bank of Canada, Bank of Boston e First
National City Bank. Quem depositava na sua conta, eram
empresas como Texaco, Shell, Esso Brasileira, Standard Oil of New
Jersey, Texas Oil Co, Gulf Oil Bayer, Enila, Shering, Ciba, Cross,
General Eletric, IBM, Remington Rand, AEG, Coty, Coca-Cola, Standard
Brands, Cia de Cigarros Souza Cruz, Belgo Mineira, US Stell, Hanna
Mining Corp, Bethlehem Stell, General Motors, Willy Overland e o IBEC.[2]
Destas
empresas vinha também o dinheiro para subornos dos agentes do Estado,
empresas como General Eletric, Ericsson, Goodyear, Lockheed e Coca-Cola
foram denunciadas por corromper funcionários do governo Geisel.[3]
Segundo
o depoimento do ex-governador Paulo Egydio Martins o apoio financeiro
por parte de empresários conspiradores serviu para reequipar o II
Exercito, dando condições para que as tropas seguissem para o sul do
pais, com o objetivo de enfrentar o III Exército, que sob a influencia
de Leonel Brizola poderia resistir ao golpe. “Esse grupo que reequipou o II Exercito através de contribuições de empresas paulistas” [4]
SUSTENTARAM OS APARATOS DE REPRESSÃO
As multinacionais e a grande burguesia brasileira não somente apoiaram o golpe de 1964, mas também sustentaram os setores mais nefastos da repressão durante a ditadura.
Para
entender o que significa isso basta lembrar que os paramilitares tinham
fazendas, sítios e bases clandestinas que serviam para torturar,
seviciar, estuprar e matar.
A
Casa da Morte em Petrópolis teve seu aluguel pago regularmente. O
delegado Sergio Fleury arregimentou dinheiro com seus patrocinadores
para comprar sitio 31 de março em Parelheiros. Onde muitos militantes
foram mortos.
Em São Paulo
também havia uma casa na avenida 23 de maio, e um sitio na região de
Atibaia. Assim como foram denunciados um sitio em Sergipe, usado pelos
órgão de segurança de Salvador; um apartamento em Goiânia; e uma casa no
Recife[5]
Davam também veículos e combustível. Os que agiam nestes grupos ilegais, e os voluntários, recebiam recompensas, gratificações, salários complementares, abonos e comissões.[6] Inclusive com contas clandestinas, com nomes frios, nos bancos que os patrocinavam.[7]
Se
estes agentes fossem denunciados e demitidos tinham seus empregos
garantidos em empresas de segurança e em multinacionais. Há casos de
“cachorros”[8] que tiveram o mesmo destino. Afinal como se pensa que sobrevive o Cabo Anselmo até hoje em seu esconderijo.[9]
O PATROCINIO DA OBAN
O
patrocínio da sangrenta Operação Bandeirantes, OBAN, foi feito
diretamente pelos empresários paulistas, com a coordenação da FIESP. O
Presidente da FIESP, Theobaldo de Nigris, cedia a sede da entidade para
reuniões arrecadatórias.[10]
O próprio presidente Ernesto Geisel admitiu: “Houve
muita colaboração entre o empresariado e os governos estaduais. A
organização que funcionou em São Paulo, a OBAN, foi obra dos empresários
paulistas”[11]
Os jornais também sustentavam a repressão. Grandes meios como: os Diários Associados, Jornal do Brasil[12], Rede Globo[13], O Estado de São Paulo[14] e a Folha de São Paulo[15].
O delegado José Paulo Bonchristiano[16] declarou que Roberto Marinho, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”. Também afirma que podia telefonar a qualquer hora para Octávio Frias de Oliveira, dono da Folha de S. Paulo “para pedir o que o DOPS precisasse”. [17]
O
documentário “Cidadão Boilesen” na mesma linha, quando menciona que a
Folha, de Frias, cedia automóveis para serem utilizados por agentes da
repressão em ações de campana, busca e captura de militantes de
organizações políticas. Ações confirmadas por Élio Gáspari em seu livro
“Ditadura Escancarada” [18]
O coronel Erasmo Dias garante que “o
Julio de Mesquita Filho, quer dizer, O Estado de São Paulo, também as
‘escancas’ nos apoiou, não tem duvida. E outros empresários, aquele lá
de Osasco, Vidigal nos apoiou nunca esconderam e o apoio para nós era
importante não só informação, com estrutura, e era para nós uma
participação que interessava”[19]
Bancos como o Itaú de Olavo Setúbal, Bradesco de Amador Aguiar [20] e Sudameris também estavam envolvidos. “Banqueiros
como Amador Aguiar, Gastão Vidigal, Moreira Salles sempre foram
extremamente cooperativos com o governo. Se o governo queria baixar a
taxa de juros, conversava com eles e o que a gente prometia, cumpria".[21]
Bonchristiano
descreve que quando montou a Polícia Federal em São Paulo, Amador
Aguiar, cedeu uma ala de seu banco para funcionar lá provisoriamente e “mandou caminhões do Bradesco carregados com o que fosse necessário para montar a delegacia da Policia Federal na rua Piauí”.[22]
Gastão Eduardo de Bueno Vidigal, do Banco Mercantil promovia reuniões no Clube Paulistano, para arrecadar fundos para a OBAN.[23]
O
coronel Vernon Walters convocou o instrutor de tortura internacional,
Dan Mitrione, a pedido de Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional, para
treinar 10.000 homens da Polícia Militar de Minas Gerais. Magalhães,
financiou do próprio bolso o treinamento.
Na
Volkswagen trabalhavam 150 guardas fardados e armados sob o comando do
coronel Rudge, grande amigo do coronel Erasmo Dias; na Fiat era habito
entregar a delegacia de policia operários que brigavam com a chefia; na
Telefunken as viaturas do Exercito ficavam no pátio; na Caterpillar os
patrões avisavam os membros da Comissão de Fabrica que seus nomes
estavam prontos para irem para o SNI.[24] Fazem parte também desta tenebrosa lista a General Motors, a Ford,[25] e a Mercedes Bens.[26]
O Grupo Ultra, hoje um dos maiores grupos empresariais privados do Brasil, teve entre seus diretores o dinamarquês Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz, financiador da Operação Bandeirante, auxiliar direto de torturas, justiçado por militantes das organizações que faziam a luta armada. Trabalhava junto com Peri Igel. Igel era dono da Supergel empresa de alimentos congelados que fornecia refeições a OBAN.
Norberto Odebrecht o fundador da Odebrecht, durante o governo de Castelo Branco, hoje ela é a maior acionista da Braskem. A Camargo
Correia tinha como presidente Sebastião Camargo, que contribuía com
altas somas para a assustadora caixinha da repressão. Freqüentava os
jantares na casa de Boilensen.
Em troca estas empresas receberam benefícios do governo. Garantiam seus bons lucros e benesses através de concorrências fraudulentas, isenções ficas e empréstimos.
[2] René Armand Dreifus, 1964: A Conquista do Estado, ação política, poder e golpe de classe, p 207.
[4] Boilesen
um empresário da ditadura: a questão do apoio do empresariado paulista à
OBAN/Operação Bandeirantes, 1969-1971, Jorge José de Melo, Universidade
Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
[5] Lucia Romeu, A Casa das Torturas em Petrópolis, as 10 reportagens que abalaram a ditadura, p 260
[10] Pedro e os Lobos, Os anos de chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano de João Pedro Laquê, p 261
[11] Ernesto Geisel. de Maria Celina DAraujo e Celso Castro Rio de Janeiro Editora FGV. 5ª Edição, 1998. p 215
[12] René Armand Dreiffus, 1964: A conquista do Estado, ação política, poder e golpe de classe, Ed Vozes
[13] Publica, agencia de reportagem e jornalismo investigativo, http://apublica.org/2012/02/conversas-mr-dops/ e Lembranças de uma Guerra Suja, p 161
[14] René
Armand Dreiffus, 1964: A conquista do Estado, ação política, poder e
golpe de classe, Ed Vozes e Boilesen um empresário da ditadura: a
questão do apoio do empresariado paulista à OBAN/Operação Bandeirantes,
1969-1971, Jorge José de Melo, Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
[15] Carlos Guerra, Lembranças de uma Guerra Suja e Élio Gáspari (hoje colunista da “Folha”) em seu livro “Ditadura Escancarada
[16] entrevista “Conversas com Mr. DOPS”, agencia de reportagem e jornalismo investigativo, http://apublica.org/2012/02/conversas-mr-dops/
[17] Publica, agencia de reportagem e jornalismo investigativo, http://apublica.org/2012/02/conversas-mr-dops/
[19] Boilesen
um empresário da ditadura: a questão do apoio do empresariado paulista à
OBAN/Operação Bandeirantes, 1969-1971, Jorge José de Melo, Universidade
Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
[21] Delfim Netto Entrevistado por Valor Econômico, 10 de fevereiro de 2012
[23] -Lembranças de uma Guerra Suja, Cláudio Guerra depondo a Marcelo Netto e Rogério Medeiros, p 142
[24]
Murilo Carvalho e outros, Não, não é campo de concentração, Movimento, n
181, 18 a 24 de dezembro de 1978, in Octavio Ianni, Ditadura do grande
capital p 85
[26] Pedro e os Lobos, Os anos de chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano de João Pedro Laquê, p 261