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22 de nov. de 2013

Mais uma vez sobre o anti-partidarismo

Por Lucas Sena

Recentemente nossa militância participou de dois importantes processos: a construção da marcha do 20 de novembro e as eleições do DCE da UFRGS. Na marcha defendemos uma política de combate intransigente ao racismo e de denúncia aos governos que em seus ataques atingem com maior contundência o povo negro. Nas eleições da UFRGS tivemos uma ótima campanha de denúncia aos ataques que a universidade vem sofrendo através da política do governo Dilma. Em ambos os processos tivemos uma política de independência dos governos e patrões, sinalizando de forma categórica que só a mobilização dos trabalhadores com os estudantes pode trazer de fato a transformação necessária para nosso país e para o mundo.
 Porém, nos dois processos que participamos, se retomou com força o discurso anti partidário, no qual as organizações não devem participar dos processos de luta. E aqui queremos fazer um debate sobre os aspectos importantes relacionados a esse tema. O primeiro tem a ver com um sentimento muitas vezes de completa indignação aos partidos tradicionais, em especial o PT, que traiu a esperança de milhões de trabalhadores e estudantes. Esse, em geral, é um sentimento em certa medida muito progressivo, pois nega o velho.  Por outro lado, existem setores de direita, em alguns casos Petistas, que estimulam o sentimento anti partido, defendendo que as organizações de esquerda não devem  participar das lutas ou se participarem, que seja de forma clandestina.
Aqui é preciso fazer  uma clara distinção entre um sentimento de indignação frente a uma onda de traição, com um combate permanente às organizações de esquerda, e nós que sempre estivemos presentes nas lutas. As organizações de direita, traidoras, na medida que entram em completa desmoralização, lutam desesperadamente para que não se fortaleçam as alternativas partidárias e sindicais. Essa é uma luta de morte para manutenção do status quo.
Em junho, aqui no estado, vimos cenas bizarras na luta contra os partidos que participavam. Em umas das mobilizações, um helicóptero com um painel luminoso sobrevoou a passeata com dizeres: “sem partido”, “a nossa única bandeira é a bandeira do Brasil.” Também grupelhos neonazistas tentaram arrancar nossas bandeiras nos atos. Os mesmos que batem em negros e homossexuais nas ruas.
 Na passeata do 20 de novembro, um ativista do movimento negro, antes de iniciar o ato, fez uma fala no microfone dizendo que as bandeiras do PSTU teriam que sair do local, pois: “ali não eram espaço para política partidária”  e que todos que ali estavam “eram ativistas do movimento negro e não tinha que ter partido.” Esse mesmo ativista impediu a fala dos nossos militantes no fechamento do ato e ameaçou fisicamente duas companheiras nossas. Curiosamente ele não só abriu espaço para representantes do estado e da prefeitura falarem no ato, mas os tratava com toda cordialidade possível. Representantes dos governos que atacam  a juventude negra na periferia e que aplicam duros ataques a qualidade de vida dos trabalhadores.
Nas eleições do DCE UFRGS, a chapa 3 dizia de forma categórica que era a única chapa sem partido. Essa chapa é conhecida por ser a chapa da direita, anti-cotas e reacionária.  Quando esteve na gestão tinha profunda colaboração com o governo da Yeda do PSDB. Se apoiava em um discurso elitista e conservador contra as lutas e as greves para atacar a chapa 1, que era composta por nosso militantes, do PSOL e ativistas independentes que estiveram presentes nas principais lutas do nosso estado.
Entendemos o sentimento que muitas pessoas têm sobre as organizações e os partidos. Porém, combatemos os setores de direita e reacionários que se apoiam no sentimento antipartidário para nos combater. Não achamos que todas as pessoas devam se organizar em partidos, porém defendemos o legitimo direito das organizações (partidárias ou não, bem como as sindicais) participarem dos processos de lutas. O sentimento anti-partido leva a um regime político de restrições de liberdades democráticas e que nega o direito da auto-organização, assim como foi visto em regimes totalitários. Hitler, em um discurso, falou: “a Alemanha tem muitos partidos, e precisamos só de um partido o partido da Alemanha.” Seu discurso não era na essência contra todos os partidos, pois seu alvo principal foi o fechamento de sindicados e a aniquilação física das organizações de esquerda.
A ditadura militar no Brasil se apoiou também nesse discurso, muitas vezes se utilizando de uma bandeira que “unifica a todos”, no caso, a do Brasil. A ação, na prática, era para justificar o ataque aos trabalhadores e o favorecimento dos patrões e do imperialismo norte americano. É comum muitas vezes escutarmos que “somos todos brasileiros” ou que “somos todos negros” ou “estudantes” para se justificar uma política de conciliação entre opressores e oprimidos. Ocorre que, o interesse do opressor não cabe na mesma bandeira do interesse dos oprimidos. Por isso que os trabalhadores têm suas próprias bandeiras, de seus sindicatos, partidos e grupos. Visões diferentes sobre que saídas o movimento deve tomar não enfraquece. O que enfraquece a luta dos trabalhadores é o unipartidarismo ou concepções monolíticas. 
Importantes retrocessos em conquistas sociais na URSS até a restauração do capitalismo desses países foi imposta sob vários aspectos. Mas um elemento que em nossa opinião é preciso levar em consideração foi a completa ausência de critica e de direito dos trabalhadores se organizarem em organizações independentes do estado. Esse é um dos maiores crimes que o stalinismo cumpriu. 
Nós,  militantes do PSTU, não temos nenhum motivo para esconder nossas bandeiras e nossas opiniões. Pelo contrario, somos o partido das lutas, das greves e mobilizações. Estaremos presente em cada processo de luta para impulsioná-lo e defender a independência do movimento em relação aos patrões e aos governos. Alguns nos chamaram de oportunistas por levantarmos nossas bandeiras nos atos. Para nós, oportunistas são aqueles que escondem as suas.
Lutamos para construção de uma nova sociedade. Não fazemos das lutas um trampolim para ganhar cargos no sistema. Pelo contrário, queremos por abaixo o sistema capitalista e construir uma nova sociedade, onde não haja exploração do homem pelo homem, onde possamos transformar radicalmente esse mundo de injustiça e termos uma sociedade  mais justa e igualitária: uma sociedade socialista!

Porque que rompemos com a VII Marcha Zumbi!

Após as jornadas e junho e julho nada será como antes nem hoje nem a manhã
    Por mais de 2 meses nós, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU construímos conjuntamente com setores da CSP Conlutas, Quilombo Raça e Classe, ANEL, CUT, do Movimento e sindicatos como SINDSEF e o SINDSPREV a VII Marcha Zumbi. Os materiais de divulgação, a arrecadação financeira para as faixas, o transporte, a alimentação das crianças que abriram a marcha, foram frutos dessa unidade de ação. Acordamos conjuntamente todos os processos, desde a presença da bandeira dos partidos, até a composição da direção do ato, do carro de som e a divisão igualitária das falas. Houve um acordo unânime, após as jornadas de junho e julho e a perseguição e prisão de militantes e ativistas pela polícia mandada pelo governo, que nenhuma representação de governo teria espaço em nossas falas e a nossa segurança seria feita por nossos militantes.
      Mas nesse dia 20 de novembro de 2013, em plena marcha, fomos surpreendidos por um setor governista chefiado por um ex-militante do PCdoB e da Unegro, o qual tomou de assalto à direção do ato e do carro de som, coagindo nossos militantes com práticas machistas e autoritárias, oportunizadas pelo seu tamanho físico e pela presença de indivíduos da Secretaria de Segurança Pública. O fato foi tão aberrador que quem conduziu o carro de som foi um policial a paisana que não deixou nem a nós, nem a CUT ou qualquer outro membro da coordenação da marcha ter voz no ato coletivo que as organizações passaram meses construindo.
      Vários ativistas ao peticionarem sobre o absurdo que estava ocorrendo, receberam ameaça do policial infiltrado que dizia que podia dar voz de prisão frente ao desacato, e  que conhecia cada um de nós, pois nos havia mapeado em atos anteriores.
        Como se esses fatos até aqui relatados já não fossem a expressão da maior violência e decadência que as antigas direções do movimento negro pudessem demonstrar, ao chegarmos no final da marcha e nos organizarmos para o ato, o tal ex-militante do PCdoB e da UNEGRO chamou ao palco todas as representações do governo e não nos deu a palavra, coagindo-nos com seu autoritarismo, ao mesmo tempo que gritava por democracia em torno da questão racial.
       Companheiros e Companheiras, nós militantes da Secretaria de Negros e Negras do PSTU vimos denunciar o papel nefasto a que se prestam essas direções antigas do movimento negro, que traem as nossas causas não mais apenas no parlamento, como vimos na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, ou por meio da cooptação pelos governos Tarso, Lula e Dilma, como vemos na SEPPIR, mas agora diretamente no que nos é mais caro em nossa própria organização para luta anti-racista e contra a exploração capitalista.
     Não há como ser consequente com as questões de luta que negros e negras trabalhadores necessitam em nosso país, se não rompermos definitivamente com estas direções traidoras, autoritárias e machistas. Como podemos lutar contra as desocupações feitas nas periferias pela vinda da copa? Como lutarmos contra o genocídio da juventude negra e a violência contra a mulher negra? Como exigir melhores condições de trabalho e salário igual, lutar pelas terras de quilombos e pelo fim do assassinato de quilombolas, com estas direções que fazem apenas o que os governos do PT dos “mesaleiros”, da direita latifundiários e Ruralistas como PDT, PSDB, PMDB e outros, mandam em nome da burguesia branca que explora, domina e oprime negros e negras e brancos trabalhadores?
            Já vimos este feito na historia negra quando Gangazuma traiu os quilombolas e Zumbi e se vendeu para a Coroa Portuguesa por um quinhão de terra. Mas assim, como Dandara e Zumbi resistiriam e perderam suas vidas na luta, resistiremos aos capitães do mato, aos governantes do Frente Popular, seja no Estado ou no Governo Federal e à Direita de Plantão, como o PDT na Prefeitura do Fortunati.
Somos mais, somos mais fortes e eles não nos vencerão.
Somos Guerreiros e Guerreiras da tradição de Palmares.

18 de nov. de 2013

Ritmo de trabalho e endividamento são as principais fontes de estresse

Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (Isma BR) em Porto Alegre apresentou dados sobre o nível de estresse nos porto-alegrenses. Segundo a pesquisa, a principal causa do estresse é decorrente do trabalho. O estresse causa um impacto significativo na vida de milhões de trabalhadores, por isso não deve ser encarado de uma forma desassociada do ritmo de trabalho a que os trabalhadores estão sendo submetidos. A sobrecarga de trabalho, as metas abusivas e o assedio moral crescem sem parar.  

Alem do ritmo de trabalho, outro elemento que sistematicamente preocupa as famílias é o endividamento que consome aproximadamente 43% da renda familiar; estes são dois elementos centrais para piorar a qualidade de vida das pessoas. Outra pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que 62% dos consumidores pretendem acertar suas contas com o 13° salário. O que já foi uma renda extra está cada vez mais comprometida com o pagamento de dívidas. A cada ano que passa aumenta o numero de famílias que dedica maior parte de sua renda para pagamento de dívidas e isso é um elemento central na preocupação dos trabalhadores.  

O mito do crescimento do bem estar dos trabalhadores que é colocado pelos governos é um engano, temos uma mudança inclusive na massa salarial. No Brasil, entre 2000 e 2010, foram criados 20 milhões de postos de trabalho com carteira assinada de até 1,5 salário mínimo. Mas, no mesmo período, foram extintos outros 4 milhões de empregos que pagavam três salários mínimos ou mais, ou seja, além do endividamento e da sobrecarga temos um rebaixamento nos salários.

Como resultado, apresenta-se uma classe trabalhadora mais endividada e explorada, com números alarmantes em relação aos impactos que isso causa nos trabalhadores. A pesquisa da Isma BR aponta que em Porto Alegre 64% das pessoas responderam que maior fonte de estresse está relacionada  à vida  profissional contra 36% da vida pessoal. Outras perguntas de múltipla escolhas que foram respondidas pelos entrevistados apontaram que as causas do estresse seriam 71% Falta de Tempo (Longa jornada de trabalho e excesso de tarefas), 58% Violência, 53% Relacionamentos pessoais e 47% Problemas financeiros.

Em outro bloco de perguntas de múltipla escolha também foi respondido de que forma as pessoas lidavam com o estresse, e as respostas mostram que 57% lidam com medicamentos e 46% com bebidas alcoólicas, 43% come mais, e 42% através de atividades sociais. O Consumo de  medicamentos e bebidas alcoólicas mostram os impactos que o estresse mas principalmente o ritmo de trabalho e endividamento,  causam na saúde dos trabalhadores. 

  Outro bloco de perguntas mostrou de que forma o estresse afeta a vida das pessoas, 68% respondeu com cansaço, 53% irritação, 51% insatisfação, 44% desmotivação e 34% adoece com freqüência. Alem do uso do álcool e medicamentos, existe um impacto permanente no comportamento das pessoas:  o suposto bem estar dos trabalhadores, que está sendo dito aos quatro ventos, não existe.  

O ritmo de trabalho e o endividamento que causam impactos significativos na vida dos trabalhadores estão a serviço da superexploração que os empresários impõem. Os governos, por sua vez, de uma forma geral são não são só cúmplices dos empresários, mas também são sua mola propulsora, atacando direitos trabalhistas e arrochando salários dos servidores. 

Dilma, Tarso e Fortunati dão milhões para os bancos, enquanto oferecem migalhas para os estudantes e trabalhadores. Os empresários “nunca antes na historia desse pais lucraram tanto”. Por isso nós lutamos para derrotarmos os ataques que os governos vem promovendo aos trabalhadores, mas principalmente para lutarmos para que o lucro não esteja acima do bem estar dos trabalhadores que adoecem e perdem sistematicamente qualidade de vida para gerar lucro para um punhado de empresários. É preciso barrar os ataques, e lutar para avançar em direção a uma sociedade Socialista onde a produção esteja a serviço da população e não do lucro, pois no capitalismo não se trabalha para viver, mas vive-se para trabalhar.

Lucas Sena