Segue a luta pelo transporte público e de qualidade
Por Matheus Gomes da Juventude do PSTU de Porto Alegre
A
greve dos rodoviários acabou, mas não há como afirmar que a cidade voltou à
normalidade e ponto. O impacto dessa grande mobilização, que pode ser
considerada a mais forte no Brasil nesse início de 2014, será absorvido aos
poucos, até porque, o transporte coletivo urbano seguirá no centro dos debates.
A questão agora é: qual perspectiva ganhará o apoio popular para a resolução da
crise instaurada no transporte? Não é verdade que só a proposta da prefeitura
está em debate. O fortalecimento dos movimentos sociais em Porto Alegre desde
2013 construiu novos e potenciais agentes na formação da opinião pública e de
projetos para a questão da mobilidade urbana. Tanto o Bloco de Lutas pelo
Transporte Público (que já elaborou PLs para o passe livre e a transparência
nas contas das empresas), quanto o movimento dos rodoviários, foram muito além
das reivindicações pontuais e rotineiras. Existe uma compreensão comum de que
não basta mais lutar “apenas” contra o aumento das tarifas e por reajuste
salarial, é necessário construir um novo modelo para o transporte, ou seja,
precisamos de uma transformação estrutural.
A
iminência da licitação é o mote que poderá fortalecer uma rota alternativa para
a saída da crise, pois a rebelião de usuários e funcionários tem um inimigo
central: os empresários do transporte, questionados inclusive pelo Tribunal de
Contas do Estado. A reivindicação pelo transporte 100% público, em
contraposição ao controle privado, poderá ganhar espaço na sociedade. A lógica
da garantia de direitos ao invés da manutenção da prática de acumulação de
lucro é a alternativa dos movimentos sociais, afinal, estamos falando do
simples ato de ir e vir de milhões de pessoas e não de uma mercadoria. Será que
basta trocar seis por meia dúzia? Estimular a concorrência é a solução
magistral de Fortunati e Vanderlei Capellari? A licitação já começa com a piada
da ausência do sistema de refrigeração, demonstrando a incapacidade dos
empresários em atender demandas básicas da população. Quem virá disputar o
nosso sistema de transporte coletivo? Empresas que atuam em outros estados do
Brasil? Mas o caos no transporte não é nacional, como demonstraram as
mobilizações de junho? E agora, o que fazer? Na semana passada, diante de uma
chantagem dos empresários sob a prefeitura, Capellari afirmou que descarta a
possibilidade da estatização. Nada de novo, afinal, o modelo privado é a regra
em nosso país e o favorecimento aos empresários é a opção política dos
governantes. Mas, não seria o momento de Porto Alegre assumir a vanguarda e
quebrar mais um paradigma? O movimento social pode ser a via alternativa se
assumir de conjunto a proposta da estatização e ganhar a população para rifar
os empresários! Precisaríamos nos preocupar com a indenização de quem roubou
durante anos o dinheiro do povo e explorou cruelmente toda uma categoria? A
frota é nossa, já foi paga e re-paga pela população durante as décadas de farra
dos tubarões do transporte. Porto Alegre tem uma empresa pública que é a Carris que possui apenas 22% das linhas da cidade. O transporte precisa ser 100% público ou os problemas
de hoje perdurarão. Defendemos um transporte público em Porto Alegre com 100% das linhas sendo operadas pela Carris.
Rodoviários
e usuários querem ser protagonistas na tomada de decisão que definirá o futuro
do transporte na capital. Há tempos atrás, numa conjuntura distinta da atual,
mas marcada por grandes mobilizações, trabalhadores rodoviários organizaram
embriões de controle popular nas empresas de ônibus, com o apoio dos movimentos
sociais. Hoje eles nos provaram que tem capacidade para ser linha de frente na
gestão e controle do sistema, ou seguiremos duvidando da força e inteligência de
quem parou durante 15 dias a cidade? Vamos seguir diante de uma administração
privada e ineficiente ou vamos apostar no novo com o controle popular do
transporte?
Falando
em movimento, a luta não acabou, pois a manutenção do estado de greve é a forma
da categoria pressionar por uma decisão que satisfaça os seus interesses no
ajuizamento que ocorrerá na próxima segunda. Caso o contrário, a paralisação
poderá reiniciar. Ao mesmo tempo, a possibilidade de um novo aumento nas
tarifas, confirmada por Fortunati, também poderá ser o motor de grandes
mobilizações da juventude. Ou seja, a efervescência social vai seguir e pode se
aprofundar! Grevistas e usuários – leia-se manifestantes, poderão ser o ator
principal na definição dos rumos do transporte em Porto Alegre.