Os
governantes e a grande imprensa se apressam em afirmar que as enchentes são imprevisíveis
e que são tragédias ocasionais
Vera Guasso - Pré-candidata
à Deputada Estadual pela Frente de Esquerda PSTU/PSOL
O último
levantamento realizado pela Defesa Civil registra em 89 o número de municípios
afetados pelas enchentes, com 25 em situação de emergência e o município de Iraí em situação de
calamidade pública. No total, são pelo menos 8.598 vítimas, contabilizando só
os casos mais graves em que as pessoas estão totalmente desabrigadas (com
mínimas de 7° que tem feito aqui no Sul). Felizmente, algumas famílias conseguem recorrer a parentes
e amigos. Foram mais de 20 rodovias interditas por causa
de crateras ou alagamentos e até a Receita Federal não conseguiu manter as
ações de combate ao contrabando na fronteira do país.
Entenda onde fica a região norte e noroeste do Estado
e como se desenvolveram as enchentes
Fatalidade?
Os governantes e a grande imprensa se apressam em afirmar que as enchentes são imprevisíveis e que são tragédias ocasionais. Isso é uma tentativa de, principalmente em ano de eleição, o governador e os prefeitos se absolverem da culpa e omissão. Afinal, sempre nessa época do ano temos situações de enchentes no Rio Grande do Sul.
Elas ocorrem porque
chove, os rios enchem e não há planejamento e obras públicas de controle do
escoamento fluvial. A falta de coleta de lixo e saneamento básico ajudam a
entupir os bueiros e os riachos, muitas vezes poluídos pelas empresas, e que atrasam a vazão e deixam a situação ainda pior. Além do mais, nos grandes
centros urbanos os “banhados” (terrenos alagados) são material fértil na mão da
especulação imobiliária que, sem nenhuma dor na consciência e com o aval das
prefeituras, constroem em áreas impróprias.
E é justamente
nesses bairros e conjuntos habitacionais mais populares que as enchentes são
comuns também nos grandes centros urbanos. Todas as cidades da região
metropolitana – e a própria capital – possuem bairros e regiões alagam todos os anos. Sempre em regiões mais de periferia, fazendo das famílias de trabalhadores as
que mais sofrem com os prejuízos e traumas.
Enquanto a sociedade
não desenvolver tecnologia para controlar plenamente as chuvas, rios e a
natureza, pode acontecer de os rios encherem. O que é inconcebível é que mais de 80
cidades e 8.500 pessoas sejam vítimas de forma tão brutal desse desastre. Em alguns lugares é ainda pior, com vítimas fatais, como as terríveis enchentes no Rio de
Janeiro (leia mais aqui), que mataram e continuam matando centenas de pessoas.
Além dessas omissões
por parte dos governos, a situação de desgraça que os trabalhadores gaúchos
estão passando são resultado da falta de um plano (com investimento maciço para
concretizá-lo) de prevenção de enchentes e desastres.
As prefeituras, o governo do Estado e o governo Federal são
responsáveis pelo drama das famílias trabalhadoras gaúchas
Nós do PSTU nos
solidarizamos com a situação de risco e trauma pela qual as comunidades gaúchas
do noroeste e norte do estado estão vivendo. Em nossa opinião, os grandes
culpados são os governantes omissos e indiferentes. Se as enchentes fossem próximas
de suas casas, certamente já teriam dado um jeito. Mas os governantes moram em
bairros desenvolvidos, das elites, onde as enchentes não os atingem. Ao acontecer a
mesma coisa todo ano, vemos que a irresponsabilidade e descaso dos governos não tem
limites.
Frente à pressão da
opinião pública, o Governador Tarso Genro desembarcou hoje em Iraí (a cidade
mais afetada) e prometeu tomar algumas iniciativas de urgência, como a liberação
de crédito às famílias e auxílio aluguel, mas não emitiu uma palavra sobre
iniciativas que resolvam concretamente o problema das enchentes. O Partido dos
Trabalhadores se limitou a emitir uma nota afirmando que a agenda de campanha do
Presidente do PT, Ary Vanazzi, vai se alterar, não indo mais para a região das
enchentes.
É preciso exigir dos
governantes que, em primeiro lugar, isentem os desabrigados das tarifas
públicas de luz, IPTU, água e outras taxas, tendo o direito de permanecerem em hotéis
não afetados até a construção de suas casas. Ao mesmo tempo, construam
casas em locais seguros para todos os desabrigados e liberem, em caráter
emergencial, R$ 10 mil para todos os atingidos, independentemente de FGTS.
Temos que exigir, principalmente, que proibam as empreiteiras de construir em local impróprio e construam um plano
de obras públicas para evitar futuras enchentes, protegendo, dessa forma, as famílias
trabalhadoras.
Más notícias à vista
Especialistas em
metereologia[1]
afirmam que deve chover forte no estado nessa próxima quinta feira e também
domingo. Afirmam também que as cheias, que agora estão na cabeceira do Rio
Uruguai, devem seguir para seus afluentes[2]
e que poderemos ver novas cheias na região sudoeste do estado.
Tudo indica que o
problema das enchentes está só começando nesse inverno gaudério e são as
famílias mais pobres as que mais vão pagar a pena, caso os governantes não ajam rápido
em favor delas.