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12 de mai. de 2015

COMBATER AS OPRESSÕES É COMBATER O CAPITALISMO


As opressões no capitalismo servem à exploração


Por Diego Braga  - Secretaria de Formação – PSTU/RS
As opressões e a sociedade de classes

As opressões que os marxistas revolucionários combatem cotidianamente como um dos tantos males sociais aos quais o capitalismo é incapaz de fornecer uma solução durável e satisfatória não surgiram, contudo, com o capitalismo. Suas origens são muito remotas. Em geral, as opressões em suas diversas manifestações, a saber, o machismo, o racismo e a LGBTfobia, começam a aparecer quando a sociedade se divide em classes.

Isto aconteceu não à toa: as sociedades divididas em classes são aquelas em que uma classe domina, explora e oprime outra. Essas sociedades tiveram diversas formas. Na sociedade escravista, são os donos de escravos que dominam, exploram e oprimem os escravizados. No feudalismo, os senhores feudais subjugam os servos. No capitalismo, a burguesia (donos de fábricas, bancos, minas e latifúndios) extrai sua riqueza explorando a pobreza do assalariado, defende sua “liberdade” oprimindo os trabalhadores e domina politicamente a sociedade para garantir esta ordem que a privilegia.

Manter esta ordem de dominação, contudo, não é simples. A propriedade privada, com a qual se explora trabalho e se concentra poder econômico, é fundamental. Um Estado, como conjunto de instituições como a justiça e o exército, que parecem ser “neutras”, mas na verdade servem aos dominadores, também é uma pedra angular desta ordem, mas não basta. É preciso criar diversos mecanismos ideológicos para que os dominados e explorados mais facilmente “aceitem” ou “não se deem conta” de sua situação como parte de uma ordem social construída que pode ser mudada. Ou seja, dominar ideologicamente é dominar o pensamento das pessoas, fazê-las acreditar que “é natural que as coisas sejam assim” ou que “é a vontade de Deus que seja assim” ou ainda “que as coisas sempre foram assim, o ser humano é terrível e ambicioso, egoísta e cruel. Isso nunca vai mudar”.

Nesse sentido, as opressões, desde o seu surgimento, têm suas razões de ser como parte deste instrumental de dominação e exploração, o que significa dizer que são parte integrante de todas as sociedades de classes, em maior ou menor grau. Assim, é impossível que a humanidade supere completamente as opressões e toda a violência e miséria que delas decorrem sem que seja superada também a estrutura da sociedade de classes.
Ideologias como forças materiais e práticas sociais
As opressões são parte do arsenal ideológico de dominação que a burguesia herdou de outras sociedades de classe, aperfeiçoando-o para que fossem ferramentas ainda mais violentas, mais onipresentes e mais eficazes contra a classe trabalhadora. De posse dos principais meios de comunicação, dominando a propaganda, a produção e a distribuição de cultura, controlando a política e fazendo leis através dos parlamentares que financia, aliando-se aos setores religiosos e mantendo em parte o controle das instituições de ensino, a burguesia consegue fazer com que as ideias mais comumente aceitas na sociedade sejam aquelas que correspondem e servem aos seus interesses, contra os trabalhadores. Através de todos os canais de difusão de ideias acima citados, a burguesia “planta” na consciência dos trabalhadores as ideias que servem à dominação e à exploração.

Adotando essas ideias, os trabalhadores passam a agir e pensar em conformidade com esta ordem, que assim se reproduz nas ações do cotidiano. Foi por isso que o velho Marx e seu amigo Engels disseram que as ideologias, quando adotadas pelas multidões, deixam de ser apenas ideias e passam a ser forças materiais, ações, práticas sociais que podem sustentar uma ordem social ou destruí-la para criar uma nova. Ao instaurar o machismo, o racismo e a LGBTfobia como parte da ideologia dominante, a burguesia faz com que os trabalhadores não só aceitem como “naturais” esses ideologemas opressivos, mas também que ajam cotidianamente de maneira opressiva, ajudando assim a sustentar a própria ordem que pesa sobre os seus ombros, sem que percebam o quanto estão colaborando com sua própria infelicidade.
As opressões no capitalismo servem à exploração
As opressões, enquanto ideologias, tornam-se forças materiais opressivas, práticas cotidianas que produzem e reproduzem um convívio social violento e pilares de uma prática moral que institucionaliza a desumanidade. Os únicos beneficiados com as opressões são os patrões. Atualmente, a sociedade dividida em classes se encontra em sua forma mais acabada, isto é, a forma em que a divisão e a desigualdade entre as classes se encontram mais acirradas.

Por conseguinte, também é no capitalismo que se fazem necessárias a exploração e opressão mais brutais e também o maior grau de desenvolvimento dos mecanismos que garantam a exploração e a opressão a serviço da classe dominante. No capitalismo, tanto o machismo, como o racismo e a LGBTfobia servem, antes de mais nada, à intensificação da exploração da burguesia sobre o proletariado. É por isso que estas ideologias são reforçadas e alimentadas a todo tempo pelos meios de propaganda da ideologia burguesa, desde as revistas, jornais e programas de TV, passando pelos comerciais, igrejas e escolas e chegando até mesmo às universidades, à “justiça” e à “ciência”. Talvez você esteja se perguntando: mas como é que as ideologias opressivas podem intensificar a exploração?

Vejamos. As opressões são uma ferramenta nas mãos da burguesia para explorar os trabalhadores, afinal, com o predomínio destas ideologias, fica ‘justificado’ perante o conjunto da sociedade o fato mais que lamentável que mulheres, negros e LGBTs recebam salários menores pela mesma profissão, que ocupem os empregos mais precários e com maior índice de assédio moral e sexual, que sejam os primeiros a serem demitidos nas crises e que sejam as maiores vítimas da criminalização e violência por parte do Estado, da violência doméstica, que continuem em grande parte excluídos dos direitos, atividades e profissões mais reconhecidos e recompensadores na sociedade, e um longo etc.

Quando o salário de um amplo setor diminui, a pressão do mercado faz com que o salário médio geral caia. Assim, os patrões lucram mais. Quando um setor tem menos direitos, os patrões gastam menos e se tornam mais competitivos, o que é uma pressão para que os demais patrões ataquem os direitos de todos os trabalhadores. Com um farto exército de desempregados ideologicamente condicionados pela opressão, os patrões sempre podem ameaçar seus assalariados com demissão, caso não aceitem a constante intensificação da exploração. Em todos os seus aspectos, as opressões beneficiam os patrões economicamente. São importantes engrenagens do sistema capitalista de exploração.
O machismo
Como são “naturalmente” dóceis e servis, diz a ideologia machista, é “natural” que as mulheres sirvam e obedeçam aos maridos, mesmo quando eles as espancam e são grosseiros. A ideologia machista faz parecer normal que elas façam o trabalho doméstico de graça, que tenham a responsabilidade “natural” de cuidar dos idosos e das crianças. Ora, fazendo todo este trabalho de graça, as mulheres ajudam a reproduzir a força de trabalho de maneira mais barata. Ou seja, fica mais barato o “preço” do trabalhador quando boa parte do trabalho necessário para sua subsistência (comida, roupas, cuidados, casa, asseio, etc.) é feito de graça pelas mulheres. Se os patrões ou o Estado burguês tivessem que pagar creche para as crianças, lavanderias públicas, refeitórios públicos, casas-abrigo para idosos, etc, lucrariam menos, pois teriam que pagar todo o custo de vida de manutenção e reprodução da força de trabalho que exploram.

Tendo suas consciências dominadas pela ideologia machista, as pessoas – mulheres e homens – não percebem como é absurdo que as mulheres sejam exibidas em todo lugar como mercadoria de açougue, valorizadas apenas por sua carne. Não percebem como é violento que as mulheres não possam ter uma sexualidade normal: devem ser ou santas assexuadas e dóceis que são “para casar” ou “putas” que só pensam em sexo e gostam de se exibir porque “querem” ser estupradas. Um homem sem trabalho é considerado um desempregado, mas uma mulher não, é “dona de casa”, “não trabalha” apesar de trabalhar muito, sem salário, sem férias e sem aposentadoria. Assim, o problema do desemprego aparenta ser menor do que realmente é. Isso é o machismo servindo à dominação e à exploração. O machismo não nos deixa ver o quão esmagadoramente dominadas por homens são a política, as ciências, as artes, a história, os esportes... e o dinheiro! Apesar de serem 50% da população mundial, as mulheres detêm apenas, pasmem!, cerca de 1% de toda riqueza mundial.
O racismo
Os negros em geral são considerados, pela ótica da opressão racista, como “naturalmente” mais aptos para trabalhos físicos que intelectuais. Por isso, têm mais “talento” para sambar ou jogar futebol que para fazer ciência ou produzir grandes obras de literatura; são “naturalmente” bons pagodeiros ou garis, mas dificilmente se tornam médicos ou juízes. O racismo faz atribuir a uma suposta “natureza” o que na verdade são manifestações da colossal injustiça social para com os negros. Os africanos e seus descendentes, responsáveis por inúmeras conquistas da civilização e da cultura, são retratados pela ideologia racista como se tivessem índole e raízes culturais agressivas e impulsivas, preguiçosas e atrasadas, o que justificaria que sejam a maior parte dos encarcerados e dos pobres e a menor parte entre os ilustres e bem sucedidos. Sua história e sua cultura são sistematicamente ignoradas, quando não distorcidas ou toscamente resumidas. O racismo nos leva a um falso raciocínio: os países desenvolvidos são majoritariamente brancos, e os subdesenvolvidos são majoritariamente negros, portanto os negros seriam um fator de atraso para um povo. Com base neste “raciocínio”, inclusive, justificou-se uma política racista de branqueamento da população brasileira com o incentivo à imigração de europeus como se o Brasil, deixando de ser majoritariamente negro, superasse por consequência o seu atraso.

Como ideologia, o racismo também é uma prática: em nosso país existe, não no papel, mas na prática, a pena de morte, só que ela é uma lei de exceção, aplicada pela polícia à juventude negra pobre, sem direito a julgamento. Os negros estão nos postos de trabalho mais precarizados, com os piores salários, são maioria entre os desempregados, entre os famintos, entre os excluídos, entre os doentes sem atendimento de saúde, entre as crianças abandonadas, entre as mulheres em situação de prostituição... e a ideologia racista, que no Brasil do século XX também veste a roupa do mito da democracia racial proposto por Gilberto Freyre, quando não atribui estes fatos à suposta “natureza inferior” dos negros, faz tudo isso parecer qualquer coisa menos fruto do racismo. Assim, um problema social é apresentado como situação natural, ou o problema racial é mascarado com ilusões meritocráticas ou explicadas pela sorte ou pelo destino.
A LGBTfobia
               A LGBTfobia denomina a opressão em que sofrem as lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros. Daí a sigla: LGBT. O nome mais comum, “homofobia”, se deve ao fato de ser uma forma de opressão combatida pelo movimento que, primeiramente, era representado pelo ativismo majoritariamente homossexual, com um marco na rebelião de Stonewall nos EUA. A LGBTfobia está em todos os lugares. As centrais de telemarketing, caracterizadas pelos baixos salários, pela alta rotatividade e pelas péssimas condições de trabalho, com altíssimos níveis de assédio moral e de degradação psicológica, estão lotadas de mulheres e de negros, mas também de LGBTs. Os LGBTs tem infinitamente mais dificuldades de arrumar um trabalho, pois a ideologia LGBTfóbica faz com que ela se torne um fator de constrangimento social, quando não se chega ao cúmulo de ser considerado(a) um ser doente, pelo simples fato de amarem e desejarem de uma forma considerada “errada” ou “pecaminosa”, “antinatural” ou “promíscua”, pela ideologia opressiva.
               Ser LGBT no capitalismo é sofrer a pior exploração, mas também ser alvo constante de agressões verbais e físicas, que não raro resultam em morte. Muitos travestis, pela total impossibilidade de arrumarem trabalho, se encontram em situação de prostituição. Para todos, o pão de cada dia é a tragédia de ter negado o mais básico dos direitos: o de amar e de manifestar afeto, pois não é incomum que ouçamos dizer: “não tenho preconceito, só não quero que façam isso no meio da rua”. Como você se sentiria se o quisessem proibir de andar de mãos dadas com sua esposa na rua? Se espancassem até a morte o seu filho porque ele estava beijando uma menina? Como você se sentiria se o estuprassem para corrigir o seu “defeito”, ou seja, para que você “passasse a gostar de homem”, como é comum fazerem com as lésbicas? Certa vez, a uma amiga minha, lésbica, um homem heterossexual disse que ela “gostava de mulher” porque nunca tinha tido relações com um homem. Ela respondeu: “Eu poderia dizer o mesmo de você”. Com essa resposta perspicaz, ela mostrou ao LGBTfóbico que a heterossexualidade é tão natural ou normal quanto a homossexualidade.
O socialismo e a superação das opressões
Qualquer programa e organização política que se proponham a combater as opressões, se não fizerem este combate nos marcos de um programa de superação do capitalismo pelo socialismo, estarão limitados a conseguir, no máximo, e às custas de muita mobilização e luta, pequenas conquistas (por importantes que sejam) que serão atacadas e destruídas logo que possível pela burguesia e seus governos de plantão. Afinal, o que vemos hoje pelo mundo, como resposta dos governos burgueses à crise econômica, é não somente o ataque aos direitos dos trabalhadores como um todo, mas que as mulheres, os negros e homossexuais são os que mais sofrem com estes ataques. Os setores oprimidos são a primeira válvula de escape para as crises do sistema, o primeiro bode expiatório da fúria dos ideólogos e dos agentes da violência a serviço dos patrões.

As conquistas arrancadas pela luta feminista, por exemplo, foram importantíssimas. Conseguiram direito a voto em 1932. Ainda naquele ano, porém, só as mulheres casadas e viúvas: as solteiras, só se tivessem renda poderiam votar. As analfabetas, como tantas de nossas avós proibidas de estudar, não puderam votar antes de 1985. Como se vê, foi graças a uma longa e intensa luta contra a burguesia e sua ordem de dominação que as mulheres conseguiram este direito básico que nem mesmo se choca frontalmente com os princípios teóricos da democracia burguesa, embora se choque com suas necessidades práticas de implementação. Com sua luta, muitas mulheres hoje têm direito a frequentar universidades, a exercer cargos públicos, ao divórcio, em alguns lugares, ao aborto, licença maternidade, etc. Outras não têm nem mesmo estes direitos. Em todo caso, não foram direitos dados de presente pela burguesia. São todos frutos da luta feminista contra os interesses da burguesia, conquistas preciosas que melhoram a vida de todos os trabalhadores, homens e mulheres, porque tornaram a sociedade menos injusta para eles, mesmo não tendo acabado com a opressão machista. De igual maneira, as enormes conquistas do movimento operário – décimo terceiro salário, férias, jornada de oito horas, seguro desemprego, descanso aos domingos, etc. - não acabaram com a exploração, por mais inestimável que seja o seu valor.

A escravidão, contra a qual lutaram Zumbi e tantos quilombolas, foi superada no Brasil enquanto regime legal de trabalho, de comércio e de propriedade, embora se perpetue ainda hoje como forma de superexploração. Com a crise e a intensificação da exploração, a escravidão se assoma como um fantasma no horizonte: atualmente, os negros do Haiti vivem sob um regime de trabalho que é, na prática, um regime de escravidão. No Brasil ainda há muito trabalho escravo, a maioria das vezes feito por negros, e este número vem crescendo com o retrocesso das relações entre trabalho e capital. Em 2013, segundo a Comissão Pastoral da Terra, a escravidão urbana no Brasil já superou a rural, pois 53% dos resgatados daquele ano trabalhavam como escravos nas cidades, contra 29% em 2012. Em ano, o número quase dobrou! A construção civil, dominada por trabalhadores negros que recebem baixos salários e têm alto índice de acidentes fatais, é o setor com maior presença de escravidão nas cidades. E não se trata de um sintoma das regiões menos desenvolvidas do país. Foi de São Paulo, o coração do capitalismo brasileiro, que 24% dos trabalhadores escravos foram resgatados no período de 2003 a 2013. A opressão racista, como peça elementar na exploração capitalista, não deixará nenhum direito aos negros se não lutarmos contra ela.

Hoje, com o PL das terceirizações que tramita no parlamento brasileiro, muitas destas conquistas estão ameaçadas, justamente porque vivemos numa ordem capitalista, cuja lógica é a de intensificar cada vez mais a exploração, porque uma lei econômica capitalista faz com que a taxa de lucros caia, tendencialmente. Então, os patrões, para seguirem faturando, precisam transferir a crise para o já massacrado trabalhador... e dizem que com isso estão salvando “a economia”. Só se for a economia no feijão com arroz do assalariado para garantir o caviar do patrão! Da mesma forma, os direitos conquistados pelas mulheres, pelos negros e pelos LGBTs, na medida em que se mantém o capitalismo, não acabam com a opressão e, além disso, podem ser a qualquer momento retirados.
No Brasil, o movimento LGBT ainda engatinha e, em parte, tem sido comprado como forma de promover uma fatia de mercado, o mercado gay, e publicizado com a pressão para despolitizar as paradas gays, dentre outras iniciativas de “visibilidade”. A visibilidade pode significar um elemento progressivo quando se trata de explicar para a sociedade o caráter opressivo da LGBTfobia, dar espaço na mídia e na cultura para uma representação não pejorativa ou cômica dos LGBTs, para divulgar as reivindicações e fortalecer a organização independente deste setor. Porém, visibilidade pode ser apenas outro nome para publicidade, e é neste sentido que os capitalistas, que querem transformar o movimento LGBT num grande shopping center para os que podem pagar, usam a expressão “visibilidade LGBT”. Portanto, é preciso mais que nunca construir e fortalecer um movimento LGBT independente dos governos e dos patrões, politicamente participante do movimento da classe trabalhadora, mas tendo um lugar e organizações específicas dentro dele.

Por tudo o que afirmamos acima é que nós, do PSTU, dizemos que combater as opressões é combater o capitalismo. Não há capitalismo sem racismo, machismo e LGBTfobia, porque estas são peças-chave para este sistema decadente que precisa cada vez mais aumentar a exploração e a opressão dos trabalhadores e da juventude para continuar sustentando a si mesmo e à classe que dele se beneficia: a burguesia.

Da mesma maneira podemos dizer que combater as opressões é lutar pelo socialismo, porque construir a sociedade socialista é avançar rumo a uma sociedade sem classes, ou seja, uma sociedade comunista em que a base de todas as formas de opressão (a divisão da sociedade em classes) não mais exista. Uma sociedade sem classes estará construída sobre bases que excluem a exploração do trabalho. Sem a necessidade de explorar trabalho, os mecanismos de intensificação da exploração, dentre os quais se encontram as opressões, perdem a razão de ser.

Com o tempo, deixando de serem parte intrínseca do sistema, sendo combatidas com educação teórica marxista e anti-opressiva e inibidas por medidas práticas como ações afirmativas, por exemplo, as opressões deixarão de existir também na consciência e na prática social de todos. Passarão a fazer parte do sombrio passado capitalista da humanidade. As pessoas em geral não percebem que somos capazes de, no futuro, olhar para trás, vendo o capitalismo tal como enxergamos a Idade Média ou o tempo da escravidão, como um passado bárbaro e obscuro, violento e miserável que superamos. Para isso, temos que lutar pela construção do socialismo e pela superação das opressões.
Um combate a ser travado desde já
O reconhecimento de que apenas com a construção do socialismo poderemos de fato superar as opressões não pode, contudo, nos levar ao erro em que incorrem muitas organizações de esquerda: o de afirmar que, já que a superação das opressões só será possível com a construção da sociedade socialista, não haveria o menor sentido em lutar contra o machismo, o racismo e a homofobia desde já. Isto é um tremendo engano, um logro que só serve para perpetuar ideologias opressivas dentro do próprio movimento socialista.

Estas ideologias podem destruir o movimento e as organizações socialistas, quando se instalam dentro delas a ponto de já não haver combate. Existe uma tendência a que as mazelas ideológicas da sociedade capitalista invadam mesmo a consciência e poluam a prática dos militantes socialistas mais convencidos, porque estes militantes e suas organizações não vivem isolados numa bolha socialista hermeticamente fechada contra a sociedade capitalista. Este fato, porém, em vez de servir para justificar práticas e ideias opressivas entre os socialistas, deve ser um dos motivos mais fortes para combatê-los com tanto vigor dentro de um partido revolucionário quanto na sociedade capitalista. Afinal, as opressões, como parte integrante da sociedade de classes e da exploração, estão em contradição com o socialismo que prepara o fim definitivo da divisão social em classes e da exploração de uma por outra.

A verdade, por conseguinte, é: justamente porque queremos superar o capitalismo é que devemos organizar desde já e a cada momento uma luta intensa contra toda forma de opressão. E isso se dá por alguns motivos.

Em primeiro lugar, porque as opressões não somente servem à intensificação da exploração, mas também para dividir a classe trabalhadora e a juventude de potencial revolucionário. Por exemplo, quando um operário negro é espancado pela polícia numa greve, graças ao racismo, todos tendem a ver ali não um trabalhador, mas um criminoso. Assim, o racismo enfraquece a luta dos trabalhadores, justificando repressão.

Quando, numa greve, uma mulher lutadora e com grande capacidade para dirigir o movimento decide tomar a dianteira da luta, os homens tendem a pensar, pelo machismo que lhes foi incutido a todo tempo: “o que esta mulher está querendo? Será que não tem roupa para lavar em casa? Mulheres são irracionais e emotivas, e não devem estar à frente de coisas sérias como as greves”, e assim acabam optando por seguir a direção do burocrata traidor da classe, só porque é um homem.

Quando os estudantes se organizam para enfrentar um ataque à educação por parte dos governos, é provável que um amplo setor queira excluir os homossexuais da luta e da pauta de reivindicações. Apenas o trabalho de propaganda e agitação sobre a juventude e os trabalhadores por parte das organizações empenhadas na superação das opressões é que pode provocar mudanças na consciência dos elementos destes setores. Movendo-se na luta, poderão sentir o peso das correntes que os prendem. Neste sentido, o engajamento de todos, homens e mulheres, brancos e negros, héteros e LGBTs nas lutas de combate às opressões é fundamental.
Em segundo lugar, porque, pelas razões já apresentadas, os trabalhadores e jovens que são vítimas das opressões são os elementos mais explorados e excluídos pela lógica destrutiva do capital. Portanto, constituem um elemento estratégico de força para por o capital em cheque, porque é justamente sobre estes que os burgueses obtêm seus maiores lucros. Se os explorados e oprimidos estiverem à frente da luta pelo socialismo, o capitalismo estará abalado em uma de suas bases fundamentais. Além disso, é pelas mesmas razões que tendemos a encontrar nos negros, mulheres e LGBTs a maior abnegação, dedicação e força na luta revolucionária pela superação deste sistema que lhes é especialmente nefasto. 
A importância da organização dos oprimidos
              Na luta contra o capitalismo, é fundamental que os setores da classe trabalhadora que, além de explorados, são oprimidos, organizem-se para elaborar teórica e programaticamente para derrotar desde já machismo, o racismo e a LGBTfobia. Porém, como dissemos, seguindo a longa tradição revolucionária da classe trabalhadora, todos, independente de raça, sexualidade e gênero devem lutar para derrotar, junto com o capitalismo dos patrões, todas as opressões. Mas não paramos por aí.

               Dado que existem as opressões na sociedade e uma vez que elas afetam os oprimidos de modo mais brutal e direto, é conclusivo que as mesmas pesem negativamente, de forma mais intensa, sobre os lutadores que delas são vítimas. Os negros, mulheres e LGBTs tendem a ter mais dificuldades de se desenvolver como lutadores revolucionários. O capitalismo, que nega ao conjunto da juventude e dos trabalhadores o desenvolvimento de suas mais nobres capacidades, faz isso de maneira ainda mais destrutiva com os oprimidos.

              Como os próprios oprimidos tendem a internalizar a lógica da opressão, os negros, mulheres e LGBTs são aqueles que têm as maiores dificuldades socioeconômicas, mas também psicológicas e culturais, de desenvolverem todo seu imenso potencial como lutadores pela revolução socialista. Os revolucionários precisam, portanto, fortalecer estes militantes e atuar de modo estratégico sobre os setores sociais oprimidos para, dialeticamente, converter a fraqueza em poder, transformar a imensa debilidade a que o capitalismo condena os oprimidos na avassaladora força própria daqueles que se libertam da opressão.

Portanto, é fundamental que os negros, mulheres e LGBTs tomem parte na luta dos trabalhadores como um todo, organizando-se de modo especial entre si para elaborarem um programa que atenda suas necessidades específicas de libertação, um programa a ser incorporado por todos os trabalhadores. Por isso, no PSTU, fomentamos a construção de secretarias especiais para elaborar política e organizar o movimento de mulheres, de negros e LGBTs, com um viés classista e estratégia socialista. Por isso, mesmo não sendo parte de nenhum setor social oprimido, um militante do PSTU se empenha no combate cotidiano a toda forma de opressão.

Afinal, por mais desenvolvido política, organizativa e teoricamente que seja um revolucionário homem, branco e heterossexual, enquanto o mesmo estiver na retaguarda no combate às opressões não poderá ser considerado um revolucionário completo e verdadeiramente um marxista. Então, é tarefa fundamental daqueles que não sofrem opressões combatê-las constantemente, em si mesmos, no movimento dos lutadores e na sociedade, com grande dedicação e sem desculpas. Construir um partido assim, forjado com militantes que dão uma luta sem quartel contra o capitalismo e pelo socialismo, contra as opressões e pelo genuíno desabrochar dos potenciais de todos os seres humanos, é um orgulho para todos nós. É a luz que brilha na noite da violência machista, da barbárie racista e da mordacidade LGBTfóbica, uma luz que precisa ser fortalecida até que se torne um dia pleno de sol.

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