As opressões no capitalismo servem à exploração
Por Diego
Braga - Secretaria
de Formação – PSTU/RS
As
opressões e a sociedade de classes
As
opressões que os marxistas revolucionários combatem cotidianamente
como um dos tantos males sociais aos quais o capitalismo é incapaz
de fornecer uma solução durável e satisfatória não surgiram,
contudo, com o capitalismo. Suas origens são muito remotas. Em
geral, as opressões em suas diversas manifestações, a saber, o
machismo, o racismo e a LGBTfobia, começam a aparecer quando a
sociedade se divide em classes.
Isto
aconteceu não à toa: as sociedades divididas em classes são
aquelas em que uma classe domina, explora e oprime outra. Essas
sociedades tiveram diversas formas. Na sociedade escravista, são os
donos de escravos que dominam, exploram e oprimem os escravizados. No
feudalismo, os senhores feudais subjugam os servos. No capitalismo, a
burguesia (donos de fábricas, bancos, minas e latifúndios) extrai
sua riqueza explorando a pobreza do assalariado, defende sua
“liberdade” oprimindo os trabalhadores e domina politicamente a
sociedade para garantir esta ordem que a privilegia.
Manter
esta ordem de dominação, contudo, não é simples. A propriedade
privada, com a qual se explora trabalho e se concentra poder
econômico, é fundamental. Um Estado, como conjunto de instituições
como a justiça e o exército, que parecem ser “neutras”, mas na
verdade servem aos dominadores, também é uma pedra angular desta
ordem, mas não basta. É preciso criar diversos mecanismos
ideológicos para que os dominados e explorados mais facilmente
“aceitem” ou “não se deem conta” de sua situação como
parte de uma ordem social construída que pode ser mudada. Ou seja,
dominar ideologicamente é dominar o pensamento das pessoas, fazê-las
acreditar que “é natural que as coisas sejam assim” ou que “é
a vontade de Deus que seja assim” ou ainda “que as coisas sempre
foram assim, o ser humano é terrível e ambicioso, egoísta e cruel.
Isso nunca vai mudar”.
Nesse
sentido, as opressões, desde o seu surgimento, têm suas razões de
ser como parte deste instrumental de dominação e exploração, o
que significa dizer que são parte integrante de todas as sociedades
de classes, em maior ou menor grau. Assim, é impossível que a
humanidade supere completamente as opressões e toda a violência e
miséria que delas decorrem sem que seja superada também a estrutura
da sociedade de classes.
Ideologias
como forças materiais e práticas sociais
As
opressões são parte do arsenal ideológico de dominação que a
burguesia herdou de outras sociedades de classe, aperfeiçoando-o
para que fossem ferramentas ainda mais violentas, mais onipresentes e
mais eficazes contra a classe trabalhadora. De posse dos principais
meios de comunicação, dominando a propaganda, a produção e a
distribuição de cultura, controlando a política e fazendo leis
através dos parlamentares que financia, aliando-se aos setores
religiosos e mantendo em parte o controle das instituições de
ensino, a burguesia consegue fazer com que as ideias mais comumente
aceitas na sociedade sejam aquelas que correspondem e servem aos seus
interesses, contra os trabalhadores. Através de todos os canais de
difusão de ideias acima citados, a burguesia “planta” na
consciência dos trabalhadores as ideias que servem à dominação e
à exploração.
Adotando
essas ideias, os trabalhadores passam a agir e pensar em conformidade
com esta ordem, que assim se reproduz nas ações do cotidiano. Foi
por isso que o velho Marx e seu amigo Engels disseram que as
ideologias, quando adotadas pelas multidões, deixam de ser apenas
ideias e passam a ser forças materiais, ações, práticas sociais
que podem sustentar uma ordem social ou destruí-la para criar uma
nova. Ao instaurar o machismo, o racismo e a LGBTfobia como parte da
ideologia dominante, a burguesia faz com que os trabalhadores não só
aceitem como “naturais” esses ideologemas opressivos, mas também
que ajam cotidianamente de maneira opressiva, ajudando assim a
sustentar a própria ordem que pesa sobre os seus ombros, sem que
percebam o quanto estão colaborando com sua própria infelicidade.
As
opressões no capitalismo servem à exploração
As
opressões, enquanto ideologias, tornam-se forças materiais
opressivas, práticas cotidianas que produzem e reproduzem um
convívio social violento e pilares de uma prática moral que
institucionaliza a desumanidade. Os únicos beneficiados com as
opressões são os patrões. Atualmente, a sociedade dividida em
classes se encontra em sua forma mais acabada, isto é, a forma em
que a divisão e a desigualdade entre as classes se encontram mais
acirradas.
Por
conseguinte, também é no capitalismo que se fazem necessárias a
exploração e opressão mais brutais e também o maior grau de
desenvolvimento dos mecanismos que garantam a exploração e a
opressão a serviço da classe dominante. No capitalismo, tanto o
machismo, como o racismo e a LGBTfobia servem, antes de mais nada, à
intensificação da exploração da burguesia sobre o proletariado. É
por isso que estas ideologias são reforçadas e alimentadas a todo
tempo pelos meios de propaganda da ideologia burguesa, desde as
revistas, jornais e programas de TV, passando pelos comerciais,
igrejas e escolas e chegando até mesmo às universidades, à
“justiça” e à “ciência”. Talvez você esteja se
perguntando: mas como é que as ideologias opressivas podem
intensificar a exploração?
Vejamos.
As opressões são uma ferramenta nas mãos da burguesia para
explorar os trabalhadores, afinal, com o predomínio destas
ideologias, fica ‘justificado’ perante o conjunto da sociedade o
fato mais que lamentável que mulheres, negros e LGBTs recebam
salários menores pela mesma profissão, que ocupem os empregos mais
precários e com maior índice de assédio moral e sexual, que sejam
os primeiros a serem demitidos nas crises e que sejam as maiores
vítimas da criminalização e violência por parte do Estado, da
violência doméstica, que continuem em grande parte excluídos dos
direitos, atividades e profissões mais reconhecidos e
recompensadores na sociedade, e um longo etc.
Quando
o salário de um amplo setor diminui, a pressão do mercado faz com
que o salário médio geral caia. Assim, os patrões lucram mais.
Quando um setor tem menos direitos, os patrões gastam menos e se
tornam mais competitivos, o que é uma pressão para que os demais
patrões ataquem os direitos de todos os trabalhadores. Com um farto
exército de desempregados ideologicamente condicionados pela
opressão, os patrões sempre podem ameaçar seus assalariados com
demissão, caso não aceitem a constante intensificação da
exploração. Em todos os seus aspectos, as opressões beneficiam os
patrões economicamente. São importantes engrenagens do sistema
capitalista de exploração.
O
machismo
Como
são “naturalmente” dóceis e servis, diz a ideologia machista, é
“natural” que as mulheres sirvam e obedeçam aos maridos, mesmo
quando eles as espancam e são grosseiros. A ideologia machista faz
parecer normal que elas façam o trabalho doméstico de graça, que
tenham a responsabilidade “natural” de cuidar dos idosos e das
crianças. Ora, fazendo todo este trabalho de graça, as mulheres
ajudam a reproduzir a força de trabalho de maneira mais barata. Ou
seja, fica mais barato o “preço” do trabalhador quando boa parte
do trabalho necessário para sua subsistência (comida, roupas,
cuidados, casa, asseio, etc.) é feito de graça pelas mulheres. Se
os patrões ou o Estado burguês tivessem que pagar creche para as
crianças, lavanderias públicas, refeitórios públicos,
casas-abrigo para idosos, etc, lucrariam menos, pois teriam que pagar
todo o custo de vida de manutenção e reprodução da força de
trabalho que exploram.
Tendo
suas consciências dominadas pela ideologia machista, as pessoas –
mulheres e homens – não percebem como é absurdo que as mulheres
sejam exibidas em todo lugar como mercadoria de açougue, valorizadas
apenas por sua carne. Não percebem como é violento que as mulheres
não possam ter uma sexualidade normal: devem ser ou santas
assexuadas e dóceis que são “para casar” ou “putas” que só
pensam em sexo e gostam de se exibir porque “querem” ser
estupradas. Um homem sem trabalho é considerado um desempregado, mas
uma mulher não, é “dona de casa”, “não trabalha” apesar de
trabalhar muito, sem salário, sem férias e sem aposentadoria.
Assim, o problema do desemprego aparenta ser menor do que realmente
é. Isso é o machismo servindo à dominação e à exploração. O
machismo não nos deixa ver o quão esmagadoramente dominadas por
homens são a política, as ciências, as artes, a história, os
esportes... e o dinheiro! Apesar de serem 50% da população mundial,
as mulheres detêm apenas, pasmem!, cerca de 1% de toda riqueza
mundial.
O
racismo
Os
negros em geral são considerados, pela ótica da opressão racista,
como “naturalmente” mais aptos para trabalhos físicos que
intelectuais. Por isso, têm mais “talento” para sambar ou jogar
futebol que para fazer ciência ou produzir grandes obras de
literatura; são “naturalmente” bons pagodeiros ou garis, mas
dificilmente se tornam médicos ou juízes. O racismo faz atribuir a
uma suposta “natureza” o que na verdade são manifestações da
colossal injustiça social para com os negros. Os africanos e seus
descendentes, responsáveis por inúmeras conquistas da civilização
e da cultura, são retratados pela ideologia racista como se tivessem
índole e raízes culturais agressivas e impulsivas, preguiçosas e
atrasadas, o que justificaria que sejam a maior parte dos
encarcerados e dos pobres e a menor parte entre os ilustres e bem
sucedidos. Sua história e sua cultura são sistematicamente
ignoradas, quando não distorcidas ou toscamente resumidas. O racismo
nos leva a um falso raciocínio: os países desenvolvidos são
majoritariamente brancos, e os subdesenvolvidos são majoritariamente
negros, portanto os negros seriam um fator de atraso para um povo.
Com base neste “raciocínio”, inclusive, justificou-se uma
política racista de branqueamento da população brasileira com o
incentivo à imigração de europeus como se o Brasil, deixando de
ser majoritariamente negro, superasse por consequência o seu atraso.
Como
ideologia, o racismo também é uma prática: em nosso país existe,
não no papel, mas na prática, a pena de morte, só que ela é uma
lei de exceção, aplicada pela polícia à juventude negra pobre,
sem direito a julgamento. Os negros estão nos postos de trabalho
mais precarizados, com os piores salários, são maioria entre os
desempregados, entre os famintos, entre os excluídos, entre os
doentes sem atendimento de saúde, entre as crianças abandonadas,
entre as mulheres em situação de prostituição... e a ideologia
racista, que no Brasil do século XX também veste a roupa do mito da
democracia racial proposto por Gilberto Freyre, quando não atribui
estes fatos à suposta “natureza inferior” dos negros, faz tudo
isso parecer qualquer coisa menos fruto do racismo. Assim, um
problema social é apresentado como situação natural, ou o problema
racial é mascarado com ilusões meritocráticas ou explicadas pela
sorte ou pelo destino.
A
LGBTfobia
A LGBTfobia denomina a opressão em que sofrem as lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros. Daí a sigla: LGBT. O
nome mais comum, “homofobia”, se deve ao fato de ser uma forma de
opressão combatida pelo movimento que, primeiramente, era
representado pelo ativismo majoritariamente homossexual, com um marco
na rebelião de Stonewall nos EUA. A LGBTfobia está em todos os
lugares. As centrais de telemarketing, caracterizadas pelos baixos
salários, pela alta rotatividade e pelas péssimas condições de
trabalho, com altíssimos níveis de assédio moral e de degradação
psicológica, estão lotadas de mulheres e de negros, mas também de
LGBTs. Os LGBTs tem infinitamente mais
dificuldades de arrumar um trabalho, pois a ideologia LGBTfóbica faz
com que ela se torne um fator de constrangimento social, quando não
se chega ao cúmulo de ser considerado(a) um ser doente, pelo simples
fato de amarem e desejarem de uma forma considerada “errada”
ou “pecaminosa”, “antinatural” ou “promíscua”, pela
ideologia opressiva.
Ser
LGBT no capitalismo é sofrer a pior exploração, mas também ser
alvo constante de agressões verbais e físicas, que não raro
resultam em morte. Muitos travestis, pela total impossibilidade
de arrumarem trabalho, se encontram em situação de prostituição.
Para todos, o pão de cada dia é a tragédia de ter negado o mais
básico dos direitos: o de amar e de manifestar afeto, pois não é
incomum que ouçamos dizer: “não tenho preconceito, só não quero
que façam isso no meio da rua”. Como você se sentiria se o
quisessem proibir de andar de mãos dadas com sua esposa na rua? Se
espancassem até a morte o seu filho porque ele estava beijando uma
menina? Como você se sentiria se o estuprassem para corrigir o seu
“defeito”, ou seja, para que você “passasse a gostar de
homem”, como é comum fazerem com as lésbicas? Certa vez, a uma
amiga minha, lésbica, um homem heterossexual disse que ela “gostava
de mulher” porque nunca tinha tido relações com um homem. Ela
respondeu: “Eu poderia dizer o mesmo de você”. Com essa resposta
perspicaz, ela mostrou ao LGBTfóbico que a heterossexualidade é tão
natural ou normal quanto a homossexualidade.
O
socialismo e a superação das opressões
Qualquer
programa e organização política que se proponham a combater as
opressões, se não fizerem este combate nos marcos de um programa de
superação do capitalismo pelo socialismo, estarão limitados a
conseguir, no máximo, e às custas de muita mobilização e luta,
pequenas conquistas (por importantes que sejam) que serão atacadas e
destruídas logo que possível pela burguesia e seus governos de
plantão. Afinal, o que vemos hoje pelo mundo, como resposta dos
governos burgueses à crise econômica, é não somente o ataque aos
direitos dos trabalhadores como um todo, mas que as mulheres, os
negros e homossexuais são os que mais sofrem com estes ataques. Os
setores oprimidos são a primeira válvula de escape para as crises
do sistema, o primeiro bode expiatório da fúria dos ideólogos e
dos agentes da violência a serviço dos patrões.
As
conquistas arrancadas pela luta feminista, por exemplo, foram
importantíssimas. Conseguiram direito a voto em 1932. Ainda naquele
ano, porém, só as mulheres casadas e viúvas: as solteiras, só se
tivessem renda poderiam votar. As analfabetas, como tantas de nossas
avós proibidas de estudar, não puderam votar antes de 1985. Como se
vê, foi graças a uma longa e intensa luta contra a burguesia e sua
ordem de dominação que as mulheres conseguiram este direito básico
que nem mesmo se choca frontalmente com os princípios teóricos da
democracia burguesa, embora se choque com suas necessidades práticas
de implementação. Com sua luta, muitas mulheres hoje têm direito a
frequentar universidades, a exercer cargos públicos, ao divórcio,
em alguns lugares, ao aborto, licença maternidade, etc. Outras não
têm nem mesmo estes direitos. Em todo caso, não foram direitos
dados de presente pela burguesia. São todos frutos da luta feminista
contra os interesses da burguesia, conquistas preciosas que melhoram
a vida de todos os trabalhadores, homens e mulheres, porque tornaram
a sociedade menos injusta para eles, mesmo não tendo acabado com a
opressão machista. De igual maneira, as enormes conquistas do
movimento operário – décimo terceiro salário, férias, jornada
de oito horas, seguro desemprego, descanso aos domingos, etc. - não
acabaram com a exploração, por mais inestimável que seja o seu
valor.
A
escravidão, contra a qual lutaram Zumbi e tantos quilombolas, foi
superada no Brasil enquanto regime legal de trabalho, de comércio e
de propriedade, embora se perpetue ainda hoje como forma de
superexploração. Com a crise e a intensificação da exploração,
a escravidão se assoma como um fantasma no horizonte: atualmente, os
negros do Haiti vivem sob um regime de trabalho que é, na prática,
um regime de escravidão. No Brasil ainda há muito trabalho escravo,
a maioria das vezes feito por negros, e este número vem crescendo
com o retrocesso das relações entre trabalho e capital. Em 2013,
segundo a Comissão Pastoral da Terra, a escravidão urbana no Brasil
já superou a rural, pois 53% dos resgatados daquele ano trabalhavam
como escravos nas cidades, contra 29% em 2012. Em ano, o número
quase dobrou! A construção civil, dominada por trabalhadores negros
que recebem baixos salários e têm alto índice de acidentes fatais,
é o setor com maior presença de escravidão nas cidades. E não se
trata de um sintoma das regiões menos desenvolvidas do país. Foi de
São Paulo, o coração do capitalismo brasileiro, que 24% dos
trabalhadores escravos foram resgatados no período de 2003 a 2013. A
opressão racista, como peça elementar na exploração capitalista,
não deixará nenhum direito aos negros se não lutarmos contra ela.
Hoje,
com o PL das terceirizações que tramita no parlamento brasileiro,
muitas destas conquistas estão ameaçadas, justamente porque vivemos
numa ordem capitalista, cuja lógica é a de intensificar cada vez
mais a exploração, porque uma lei econômica capitalista faz com
que a taxa de lucros caia, tendencialmente. Então, os patrões, para
seguirem faturando, precisam transferir a crise para o já massacrado
trabalhador... e dizem que com isso estão salvando “a economia”.
Só se for a economia no feijão com arroz do assalariado para
garantir o caviar do patrão! Da mesma forma, os direitos
conquistados pelas mulheres, pelos negros e pelos LGBTs, na medida em
que se mantém o capitalismo, não acabam com a opressão e, além
disso, podem ser a qualquer momento retirados.
No
Brasil, o movimento LGBT ainda engatinha e, em parte, tem sido
comprado como forma de promover uma fatia de mercado, o mercado gay,
e publicizado com a pressão para despolitizar as paradas gays,
dentre outras iniciativas de “visibilidade”. A visibilidade pode
significar um elemento progressivo quando se trata de explicar para a
sociedade o caráter opressivo da LGBTfobia, dar espaço na mídia e
na cultura para uma representação não pejorativa ou cômica dos
LGBTs, para divulgar as reivindicações e fortalecer a organização
independente deste setor. Porém, visibilidade pode ser apenas outro
nome para publicidade, e é neste sentido que os capitalistas, que
querem transformar o movimento LGBT num grande shopping center para
os que podem pagar, usam a expressão “visibilidade LGBT”.
Portanto, é preciso mais que nunca construir e fortalecer um
movimento LGBT independente dos governos e dos patrões,
politicamente participante do movimento da classe trabalhadora, mas
tendo um lugar e organizações específicas dentro dele.
Por
tudo o que afirmamos acima é que nós, do PSTU, dizemos que combater
as opressões é combater o capitalismo. Não há capitalismo sem
racismo, machismo e LGBTfobia, porque estas são peças-chave para
este sistema decadente que precisa cada vez mais aumentar a
exploração e a opressão dos trabalhadores e da juventude para
continuar sustentando a si mesmo e à classe que dele se beneficia: a
burguesia.
Da
mesma maneira podemos dizer que combater as opressões é lutar pelo
socialismo, porque construir a sociedade socialista é avançar rumo
a uma sociedade sem classes, ou seja, uma sociedade comunista em que
a base de todas as formas de opressão (a divisão da sociedade em
classes) não mais exista. Uma sociedade sem classes estará
construída sobre bases que excluem a exploração do trabalho. Sem a
necessidade de explorar trabalho, os mecanismos de intensificação
da exploração, dentre os quais se encontram as opressões, perdem a
razão de ser.
Com
o tempo, deixando de serem parte intrínseca do sistema, sendo
combatidas com educação teórica marxista e anti-opressiva e
inibidas por medidas práticas como ações afirmativas, por exemplo,
as opressões deixarão de existir também na consciência e na
prática social de todos. Passarão a fazer parte do sombrio passado
capitalista da humanidade. As pessoas em geral não percebem que
somos capazes de, no futuro, olhar para trás, vendo o capitalismo
tal como enxergamos a Idade Média ou o tempo da escravidão, como um
passado bárbaro e obscuro, violento e miserável que superamos. Para
isso, temos que lutar pela construção do socialismo e pela
superação das opressões.
Um
combate a ser travado desde já
O
reconhecimento de que apenas com a construção do socialismo
poderemos de fato superar as opressões não pode, contudo, nos levar
ao erro em que incorrem muitas organizações de esquerda: o de
afirmar que, já que a superação das opressões só será possível
com a construção da sociedade socialista, não haveria o menor
sentido em lutar contra o machismo, o racismo e a homofobia desde já.
Isto é um tremendo engano, um logro que só serve para perpetuar
ideologias opressivas dentro do próprio movimento socialista.
Estas
ideologias podem destruir o movimento e as organizações
socialistas, quando se instalam dentro delas a ponto de já não
haver combate. Existe uma tendência a que as mazelas ideológicas da
sociedade capitalista invadam mesmo a consciência e poluam a prática
dos militantes socialistas mais convencidos, porque estes militantes
e suas organizações não vivem isolados numa bolha socialista
hermeticamente fechada contra a sociedade capitalista. Este fato,
porém, em vez de servir para justificar práticas e ideias
opressivas entre os socialistas, deve ser um dos motivos mais fortes
para combatê-los com tanto vigor dentro de um partido revolucionário
quanto na sociedade capitalista. Afinal, as opressões, como parte
integrante da sociedade de classes e da exploração, estão em
contradição com o socialismo que prepara o fim definitivo da
divisão social em classes e da exploração de uma por outra.
A
verdade, por conseguinte, é: justamente porque queremos superar o
capitalismo é que devemos organizar desde já e a cada momento uma
luta intensa contra toda forma de opressão. E isso se dá por alguns
motivos.
Em
primeiro lugar, porque as opressões não somente servem à
intensificação da exploração, mas também para dividir a classe
trabalhadora e a juventude de potencial revolucionário. Por exemplo,
quando um operário negro é espancado pela polícia numa greve,
graças ao racismo, todos tendem a ver ali não um trabalhador, mas
um criminoso. Assim, o racismo enfraquece a luta dos trabalhadores,
justificando repressão.
Quando,
numa greve, uma mulher lutadora e com grande capacidade para dirigir
o movimento decide tomar a dianteira da luta, os homens tendem a
pensar, pelo machismo que lhes foi incutido a todo tempo: “o que
esta mulher está querendo? Será que não tem roupa para lavar em
casa? Mulheres são irracionais e emotivas, e não devem estar à
frente de coisas sérias como as greves”, e assim acabam optando
por seguir a direção do burocrata traidor da classe, só porque é
um homem.
Quando
os estudantes se organizam para enfrentar um ataque à educação por
parte dos governos, é provável que um amplo setor queira excluir os
homossexuais da luta e da pauta de reivindicações. Apenas o
trabalho de propaganda e agitação sobre a juventude e os
trabalhadores por parte das organizações empenhadas na superação
das opressões é que pode provocar mudanças na consciência dos
elementos destes setores. Movendo-se na luta, poderão sentir o peso
das correntes que os prendem. Neste sentido, o engajamento de todos,
homens e mulheres, brancos e negros, héteros e LGBTs nas lutas de
combate às opressões é fundamental.
Em
segundo lugar, porque, pelas razões já apresentadas, os
trabalhadores e jovens que são vítimas das opressões são os
elementos mais explorados e excluídos pela lógica destrutiva do
capital. Portanto, constituem um elemento estratégico de força para
por o capital em cheque, porque é justamente sobre estes que os
burgueses obtêm seus maiores lucros. Se os explorados e oprimidos
estiverem à frente da luta pelo socialismo, o capitalismo estará
abalado em uma de suas bases fundamentais. Além disso, é pelas
mesmas razões que tendemos a encontrar nos negros, mulheres e LGBTs
a maior abnegação, dedicação e força na luta revolucionária
pela superação deste sistema que lhes é especialmente nefasto.
A importância da organização dos oprimidos
Na
luta contra o capitalismo, é fundamental que os setores da classe
trabalhadora que, além de explorados, são oprimidos, organizem-se
para elaborar teórica e programaticamente para derrotar desde já
machismo, o racismo e a LGBTfobia. Porém, como dissemos, seguindo a
longa tradição revolucionária da classe trabalhadora, todos,
independente de raça, sexualidade e gênero devem lutar para
derrotar, junto com o capitalismo dos patrões, todas as opressões.
Mas
não paramos por aí.
Dado
que existem as opressões na sociedade e uma vez que elas afetam os
oprimidos de modo mais brutal e direto, é conclusivo que as mesmas
pesem negativamente, de forma mais intensa, sobre os lutadores que
delas são vítimas. Os negros, mulheres e LGBTs tendem a ter mais
dificuldades de se desenvolver como lutadores revolucionários. O
capitalismo, que nega ao conjunto da juventude e dos trabalhadores o
desenvolvimento de suas mais nobres capacidades, faz isso de maneira
ainda mais destrutiva com os oprimidos.
Como
os próprios oprimidos tendem a internalizar a lógica da opressão,
os negros, mulheres e LGBTs são aqueles que têm as maiores
dificuldades socioeconômicas, mas também psicológicas e culturais,
de desenvolverem todo seu imenso potencial como lutadores pela
revolução socialista. Os revolucionários precisam, portanto,
fortalecer estes militantes e atuar de modo estratégico sobre os
setores sociais oprimidos para, dialeticamente, converter a fraqueza
em poder, transformar a imensa debilidade a que o capitalismo condena
os oprimidos na avassaladora força própria daqueles que se libertam
da opressão.
Portanto,
é fundamental que
os negros, mulheres e LGBTs
tomem
parte na luta dos trabalhadores como um todo, organizando-se de modo
especial entre si para elaborarem um programa que atenda suas
necessidades específicas de libertação, um programa a ser
incorporado por todos os trabalhadores. Por
isso, no PSTU, fomentamos a construção de secretarias especiais
para elaborar política e organizar o movimento de mulheres, de
negros e LGBTs, com um viés classista e estratégia socialista. Por
isso, mesmo não sendo parte de nenhum setor social oprimido, um
militante
do PSTU se empenha no combate cotidiano a toda forma de opressão.
Afinal,
por
mais desenvolvido política, organizativa e teoricamente que seja um
revolucionário homem, branco e heterossexual, enquanto o mesmo
estiver na retaguarda no combate às opressões não poderá ser
considerado um revolucionário completo e verdadeiramente um
marxista. Então, é tarefa fundamental daqueles que não sofrem
opressões combatê-las constantemente, em si mesmos, no movimento
dos lutadores e na sociedade, com grande dedicação e sem desculpas.
Construir um partido assim, forjado com militantes que dão uma luta
sem quartel contra o capitalismo e pelo socialismo, contra as
opressões e pelo genuíno desabrochar dos potenciais de todos os
seres humanos, é um orgulho para todos nós. É a luz que brilha na
noite da violência machista, da barbárie racista e da mordacidade
LGBTfóbica, uma luz que precisa ser fortalecida até que se torne um
dia pleno de sol.