Contribuição
do PSTU Porto Alegre ao debate de perfil programático na Plataforma
“Compartilhe a mudança“ – Pré-candidatura Luciana Genro(PSOL)
A
Esquerda Socialista em Porto Alegre tem um grande desafio político e eleitoral
pela frente. Em meio a crise que vivemos, é nítido que o grande desgaste dos
partidos que administram Porto Alegre nos últimos 28 anos (PT e PDT/PMDB) abriu
um espaço político inédito para um novo projeto político na cidade. A principal
expressão política disso é a pré-candidatura de Luciana Genro(PSOL) que depois
da desistência da Manuela D’ávila(PC do B) lidera as pesquisas eleitorais na
cidade.
O
PSTU esteve presente no lançamento da Plataforma “ Compartilhe a mudança “ para
se somar aos debates programáticos abertos pelo PSOL e apresentar nossas
contribuições sobre o programa que a campanha deve defender, abrindo o
debate com as organizações que já contribuíram com a plataforma, como o Centro
de Estudantes e Debates Socialista(CEDS), Raiz Cidadanista, PPL e todos os
ativistas que se somam para apoiar a pré-candidatura de Luciana Genro. Queremos
com isso recuperar uma velha tradição de debates políticos e teóricos sobre os
melhores caminhos que a esquerda combativa deve percorrer para de fato se
colocar como alternativa a crise do PT e os demais partidos da ordem no Brasil.
Uma
Campanha com Perfil de Oposição de Esquerda ao PT e a oposição de direita
A
crise que o Brasil atravessa é a expressão do fim do ciclo político da frente
popular. O PT no poder foi um “reformismo sem reformas”, ou seja, um projeto de
conciliação de classes que em momento algum buscou mobilizar e organizar a
classe trabalhadora para a conquista de reformas estruturais ou medidas de
enfrentamento com o capital nacional e internacional. O desenvolvimentismo
virou neoliberalismo, na realidade, a estrela brilhou apenas para a grande
burguesia que, como Lula gosta de afirmar, “nunca lucrou tanto na história do
país”. O Bolsa Família, programa mais importante do PT para combater a pobreza,
gastava em 2014 cerca de R$ 24 bilhões, enquanto o “Bolsa Banqueiro” consumia
R$ 800 bilhões.
A
ruptura da maior parte dos trabalhadores e da juventude com Dilma e o PT depois
do início da aplicação do plano de ajuste fiscal e os sucessivos escândalos de
corrupção que atingiram a cúpula da direção petista, inclusive Lula, é um
elemento progressivo e precisamos estar ao lado da classe para tirar as
conclusões corretas do processo. O PT deu errado por aplicar um projeto
de conciliação de classes, nunca tivemos um governo dos trabalhadores de fato.
Um exemplo disso é a participação popular nos mandatos petistas através do
Orçamento Participativo em Porto Alegre: o OP servia como um mero complemento a
democracia burguesa, as decisões fundamentais passavam longe das assembleias
nos bairros. Defendemos um governo apoiado em conselhos populares nos bairros e
entidades dos trabalhadores, onde construamos um projeto de democracia direta
da nossa classe.
A
campanha eleitoral precisa dizer que o nosso caminho é distinto ao que PT
trilhou, combateremos a farsa da conciliação de classes. Também devemos
combater com todas nossas forças a velha e a “nova” direita que busca
capitalizar o descontentamento popular. Eles são defensores de um ajuste ainda
mais brutal, querem vender o que ainda não privatizado e disseminam o ódio
contra mulheres, negros, indígenas e LGBTs.
Desde
já, a campanha precisa se posicionar contra o impeachment dirigido por Cunha e
esse congresso de ladrões. A nossa estratégia deve ser construir um terceiro
campo dos trabalhadores, independente do governo do PT e da oposição de
direita, que convoque os trabalhadores a construir um novo junho de 2013,
impulsionar os movimentos de greve, ocupações, unificar as lutas e transformar
a resistência em ofensiva para colocar pra fora Dilma, Lula, Aécio, Cunha e
todos esses corruptos que agem à serviço dos patrões. Um bom exemplo da
construção do terceiro campo é a mobilização nacional do dia 1 de abril, construida
pela CSP Conlutas e espaço de unidade de ação, iniciativas como essa que temos
que fortalecer contra os atos chamados pela direita como o 15 de março e os atos
governistas dirigidos pelo PT como a mobilização do 18 de março.
Porto
Alegre para os trabalhadores e o povo pobre da periferia
O
direito a saúde de qualidade, a educação, ao lazer e cultura, a moradia , ao
transporte público de qualidade são privilégio de poucos. Podemos afirmar sem
dúvida que Porto Alegre é campeã na exclusão dos mais pobres ao direito à
cidade.
Devemos
inverter essa lógica. Para isso devemos afirmar que vamos governar não para
todos e sim para a imensa maioria da população que são os trabalhadores e a
juventude com especial atenção ao povo negro e a população da periferia, as
mulheres, indígenas e os LGBT´S. Devemos fazer um governo de enfrentamento aos
poderosos, as máfias de transporte, aos esquemas de corrupção da prefeitura,
devemos romper com o sistema da dívida que retira bilhões do orçamento por ano.
Para isso nossa estratégia é se apoiar na mobilização e organização dos
trabalhadores e na juventude, ou seja, uma prefeitura que aponte todas as suas
armas ao poder central, dos governos estadual e federal.
Para
fazer um governo de enfrentamento é preciso não ter coligações com os partidos
burgueses ou que estão na base do governo Dilma. Assim como é um grave erro político
aceitar dinheiro das empresas para financiar as eleições. Precisamos retirar
todas as lições da crise do PT, as relações promiscuas da direção Petista com
os empresários, o financiamento da campanha eleitoral por parte dos empresários
e as coligações eleitorais sem critérios programáticos e de independência de
classe. Como estamos vendo nas investigações da Lava Jato essa é uma das
principais causas da degeneração e crise do PT. Não podemos repetir esse erro.
A campanha da Luciana Genro e do compartilhe a mudança deve ser totalmente
independente dos poderosos e da burguesia. Somente assim terá autoridade para
denunciar os candidatos da direita e do PT e enfrentar os interesses da
burguesia.
Podemos
e Bernie Sanders como referências?
A
plataforma “ compartilhe a mudança “ escrita pelos companheiros do PSOL aponta
como referências políticas de governo as prefeituras dirigidas por Podemos e o
modelo de gestão de Bernie Sanders do Partido Democrata dos EUA quando foi
prefeito de Burlington, defendendo no marco disso a chamada “Democracia Real”.
Sobre
as prefeituras dirigidas por Podemos em Madrid, Barcelona e outras cidades já é
possível identificar que apesar do importante apoio popular que tiveram
não conseguiram avançar para sequer romper o mecanismo da dívida pública, não
interferindo estruturalmente no modelo de administração das prefeituras de
Madrid e Barcelona. Podemos ainda apoiou o acordo feito pelo Syriza de
renegociação da dívida grega, segue defendendo a participação da Espanha na
União Européia e é contra a independência da Catalunha.
Já
Bernie Sanders não faz nenhuma crítica pública ao presidente Barack Obama e tem
no seu histórico a marca de ter votado favorável no senado aos créditos de guerra no Iraque, votou favorável a resolução que permite o uso da força contra o terrorismo que vem autorizando o imperialismo americano a invadir vários países como o Afeganistão, entre outros apoios a política imperialista norte americana. Mesmo se autointitulando
socialista e arrastando uma parcela importante da juventude trabalhadora
norte-americana, não podemos ter dúvidas que representa um projeto político
burguês.
É
um erro colocar como modelo de governo para as novas gerações de ativistas e
para os trabalhadores que estão profundamente decepcionados com o PT
alternativas políticas que são inclusive, em todos os sentidos menos
progressivas nos tempos de hoje do que foi o PT no início dos anos 80.
É
preciso reafirmar um perfil político de transformar as eleições de Porto Alegre
e as candidaturas da Frente de Esquerda em um ponto de apoio para os
sindicatos, grêmios estudantis, associações de bairro, DCE´S, o movimento
negro, o movimento LGBT, ou seja, o
conjunto dos movimentos sociais. Precisamos romper com o sistema da dívida
pública e todos os benefícios concedidos as máfias do transporte e da saúde, ou
seja, nosso programa precisa ser anti-capitalista e socialista, para apresentar
um projeto de transformação real para além das eleições. Isso infelizmente nem
Bernie Sanders, nem o Podemos estão fazendo.
PSTU Porto Alegre