ENTREVISTA COM JULIO FLORES
Jornal da Cidade - RS - Dia 27/03/2010 (Divulgamos aqui a entrevista na integra)
Seguindo a série de reportagens com os presidentes estaduais dos partidos políticos gaúchos, a Equipe de Reportagem do Jornal da Cidade (JC) entrevista esta semana o presidente Estadual do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e pré-candidato a governador do Estado, Julio Flores . Júlio é professor de Matemática da Rede Pública Estadual e Municipal de Porto Alegre.
Quais os projetos do Partido para as eleições deste ano?Julio Flores: Nosso partido quer construir um contraponto nas eleições nacionais. Um terceiro campo em oposição a Serra e a Dilma. Defenderemos um projeto alternativo e socialista para o Brasil. Vamos defender as reivindicações dos trabalhadores. Nosso pré-candidato a presidência da republica, o Zé Maria, é operário e socialista, esteve junto na década de 80 com Lula nas greves do ABC e foi um dos fundadores do PT e da CUT. Nossa oposição ao governo Lula é pela esquerda e não se iguala aos partidos de direita.
No estado, nosso objetivo é combater a falsa polarização eleitoral entre Tarso e Fogaça que defendem o mesmo projeto em nível nacional com a candidatura de Dilma. Nosso partido vai lançar meu nome para disputar o Piratini com este objetivo, além de fortalecer o partido no RS.
Quais os pré-candidatos na região de abrangência do Jornal (Canoas, Cachoeirinha, Gravataí e também Porto Alegre)?
Julio Flores: Essa é uma região muito importante para o estado. É aqui que se concentra parte significativa dos trabalhadores do setor da produção industrial. Vamos lançar um candidato para deputado de Gravataí. Uma cidade que apesar de gerar muita riqueza, através da montadora, os trabalhadores vivem em uma situação oposta. O transporte público intermunicipal é uma vergonha e demonstra o nível de exploração das empresas e o descaso dos governos que não se enfrentam com as mesmas para exigir qualidade no transporte público. Nosso candidato a Deputado, Manoel Fernandes, que é professor do estado e diretor do Cpers/sindicato na região, será um porta voz dos trabalhadores nessa e em outras lutas.
Quantos filiados há no hoje no Estado?
Julio Flores: Nosso partido tem mais de mil filiados no estado, mas não fazemos campanha de filiação já faz muito tempo. Orgulhamos-nos de ter o maior índice de filiação de mulheres do Brasil, chegamos a 47% do nosso quadro de filiados a nível nacional.
A experiência do PT, e de outros partidos da esquerda, comprova que o número de filiados não é o mais importante. Nosso partido valoriza e dá poder de decisão aos nossos militantes que estão dia-a-dia nas lutas dos trabalhadores. Temos uma concepção de democracia interna partidária distinta dos partidos tradicionais. Nosso partido se organiza por núcleos de base e valoriza as discussões internas em detrimentos da votação de filiados, isso significa dar direito de decisão aos militantes que se organizam nos núcleos.
Como o senhor avalia a Gestão Estadual? O que avançou no Estado e o que pode avançar mais?
Julio Flores: Yeda é um desastre para o Rio Grande. Nosso partido esteve na linha de frente da luta pelo Fora Yeda que foi liderado pelos servidores públicos e a juventude. O povo gaúcho precisa impedir que os projetos (des)estruturantes defendidos pelo governo e sua base na Assembléia Legislativa avance. São projetos que estão a serviço da retirada de direitos dos servidores públicos e de garantir um déficit zero baseado no corte de investimento nas áreas sociais. O choque de gestão do governo do PSDB é a continuidade do desmonte dos serviços públicos defendido por Britto.
A oficialização da candidatura de reeleição do governo Yeda coloca como desafio a luta para derrotar este projeto nas ruas e nas eleições. Além disso, Yeda representa o setor político mais nefasto para erário, como indica o Ministério Publico Federal em relação ao esquema de corrupção, e a existência de uma verdadeira quadrilha no Palácio Piratini, mesmo que agora se faça de vítima e tente manipular os fatos, coloca em sinal de alerta os gaúchos.
Para avançar na luta por emprego, salário digno, reforma agrária, saúde, educação, e tantos outros temas que estão estagnados, ou em situação pior, é preciso de muita mobilização popular para garantir um novo rumo para o Rio Grande.
Como o senhor avalia o Governo Lula? O que avançou no Brasil e o que precisa ser melhorado?
Julio Flores: O Brasil continua sendo o país campeão em desigualdade social. Os projetos assistencialistas, como o bolsa familia, é uma politica defendida pelo Banco Mundial para compensar os desastres da selvageria capitalista, buscando uma reparação social miserável aos setores que estão a margem da sociedade. Defendemos a subistituição gradativa deste programa por um politica ofensiva de pleno emprego.
Na política externa do governo Lula é de submissão aos interesses dos Estados Unidos. No Haiti, por exemplo, nosso país dirigiu as tropas da ONU durante alguns anos, fazendo o jogo sujo que os EUA não poderia fazer naquele momento. As tropas de ocupação da ONU não é uma politica de solidariedade e sim de colonização e de defesa da implantação das grandes empresas no país para explorar a mão de obra que é a mais barata do continente americano.
Mas não compactuamos com aqueles que defendem o PSDB, ou que defendem a volta de um governo mais neoliberal e de direita. Não admitimos que a politica econômica, os salários, a geração de empregos, distribuição de renda, reforma agraria e muitas outras questões permaneçam no marco do que foi o governo FHC. Durante a crise econômica, Lula deu dinheiro público e isenção de importos para salvar as grandes empresas, foram mais de 370 bilhões de reias. Ao mesmo tempo destinou apenas 11 bilhões para o bolsa familia. Isso é uma demonstração da opção que o governo Lula fez durante a crise economica. O Brasil teve mais de 1 milhão e 300 mil trabalhadores desempregados e o governo federal foi incapaz de editar uma medida provisória grantindo a estabilidade no emprego. Preferiu salvar meia duzia de empresarios e banqueiros que estavam indo a falência.
Essa é a grande diferença que temos com o governo Lula. Quem governa com os empresários e patrões acaba governando para os ricos e poderosos, mesmo que aparentemente pareça que esta do nosso lado. A reforma da previdência em 2004 foi episódio que demonstrou o que estamos falando. Certamente você deve conhecer alguém que não se aposentou, ou esta esperando para solicitar, por conseqüência da reforma do Lula.
Qual é a ideologia do seu Partido?
Julio Flores: O nosso partido foi fundado em 1994, unificando diferentes organizações, grupos e ativistas independentes. A maioria dos que fundaram o PSTU vinha de uma ruptura com o PT, ao considerar que este partido não era uma alternativa estratégica para a construção de um pólo revolucionária e socialista para o país.
A fundação do PSTU foi um exemplo de unificação de setores revolucionários, quando existiam e existem tantas rupturas na esquerda. Durante dois anos discutimos um programa e um estatuto para o novo partido. Quando chegamos a elaborar uma proposta comum, fizemos nosso congresso de unificação em 94. Dai surgiu o PSTU.
Nós somos aqueles que defendem uma segunda independência do Brasil. Precisamos romper com o imperialismo, sem isso não existe nenhuma possibilidade de acabar com o desemprego, com o arrocho salarial, avançar na reforma agrária, combater a fome e garantir melhores condições de vida. Nosso partido é assim, socialista!
Hoje quantos prefeitos há no RS do Partido? Vices? Vereadores? De que forma serão trabalhadas as coligações?
Julio Flores: Não temos nenhuma prefeitura ou parlamentar, mas temos uma boa influência política no país. Não é atoa que o próprio presidente Lula, em entrevista ao Jornal Estado de SP, citou o PSTU para justicar o que está fazendo no governo federal. Disse que sem as coligações com partidos da patronal, e empresários, era impossível que chegasse a presidência da republica. Realmente ele tem razão, pois Lula precisou mudar de lado para chegar ao governo. Foi aos EUA pedir autorização para ser presidente e apagou boa parte do discurso do PT durante esses últimos 25 anos. Nós do PSTU não faremos isso, somos um partido que defende outra concepção de sociedade e somos contra a conciliação de classe. Queremos um governo socialista e dos trabalhadores, sem patrões.
Mas isso é um grande debate na esquerda, pois a grande maioria dos partidos vence eleições sendo financiados pelas grandes empresas ou pela corrupção, desvio de recursos do erário e tráfico de influência dentro do aparato estatal. Nosso partido não se iguala a estas bandeiras. Além disso, vivemos em uma falsa democracia. Só tem acesso a imprensa quem tem aval das grandes corporações de comunicação. É uma relação de promiscuidade e que o povo brasileiro é refem. As regras do jogo (eleições) estão postas na mesa para favorecer os poderosos. Não é por acaso que Collor, Sarney, Renan Calheiros, Maluf, Yeda e tantos outros corruptos estão à solta. Se elegendo e reelegendo.
Sobre as coligações, estamos dispostos a contruir a unidade da esquerda classista e socialista, mas isso não é fácil. O Psol e o PCB podem ser nossos aliados na composição de uma coligação. O PCB a nível nacional já definiu que terá candidatura própria a presidência. O Psol está escolhendo seu candidato, já que Heloisa Helena não vai disputar. Mas não é iisso que dificulta a unidade da esquerda. O Psol vem trilhando um caminho muito estranho, primeiro se coligou com o PV para a prefeitura de Porto Alegre nas últimas eleições. O PV pra quem não sabe é um partido compõe a base de sustentação do governo Lula e o Psol é de oposição ao governo. Achamos isso incoerente e um grande erro. Mas as diferenças continuam, Luciana Genro teve sua campanha financiada por grandes empresas, como a Gerdau, Cia Zaffari, Marcopolo e Taurus. O PSTU é contra financiamento privado de campanha.
Mas a última declaração do pré-candidato do Psol ao Governo do Estado, Pedro Ruas, que defendeu que as Parcerias Público-Privadas não seriam um problema para o governo e sim como elas são gerenciadas, mostra que nossas divergências são maiores. Nós do PSTU somos contra as PPPs, que são as terceirizações e inicio de privatização dos serviços públicos. Com toda certeza os militantes do Psol concordam com PSTU sobre essa questão. Nessas parcerias quem acaba ganhando são os empresários e quem perde são os trabalhadores. O campeão das PPPs, por exemplo, é o Fogaça. A administração de praças, feiras e prédios públicos tem um selo do patrocinador, da “empresa cidadã”.
Então nossa militância votou pelo lançamento de uma pré-candidatura ao governo do Estado. O meu nome será colocado a disposição do povo gaúcho nessas eleições e chamamos todos os trabalhadores a unirem forças para avançarmos nas conquistas e garantir nossos direitos.
Fonte: Janice Ribas.