23 de nov. de 2015

Chega dos privilégios e das maracutaias dos políticos


A classe trabalhadora precisa tomar para si a tarefa da construção de outro modelo de sociedade

14 de nov. de 2015

Uma Noite de Horror Por Valério Arcary


Há momentos na vida em que não há palavras.
Horror é o que melhor pode descrever o que aconteceu ontem em Paris.
O Estado Islâmico (ISIS) assumiu a responsabilidade.
Foi um ato de barbárie. Um ataque covarde contra a população civil desarmada.
Os que realizaram este massacre e os que o planejaram são assassinos.
São monstros.
Aqueles que morreram em Paris eram inocentes.
Gente comum, trabalhadores e jovens.
Mas é preciso ter a coragem de dizer que a guerra não começou ontem.
O governo Hollande não é inocente. Ele tem as mãos sujas de sangue.
Quem semeia ventos colhe tempestades.
Não é uma guerra de religião, embora o vocabulário do Estado Islâmico seja islâmico.
Não é um choque de civilizações, o “Oriente contra o Ocidente”.
É um conflito que tem suas raízes na dominação imperialista do mundo.
É a luta pelo domínio do petróleo.
É o desenlace caótico das derrotas da onda revolucionária que deslocou governos que nasceram nos anos cinquenta e sessenta inspirados no nacionalismo nasserista no Egito, que era progressivo no contexto da guerra fria, e degeneraram como ditaduras militares monstruosas (Saddam Hussein, Gadhafi, Mubarak, Assad). O Estado Islâmico recrutou oficiais sunitas da Guarda Republicana de Saddam, jihadistas que vieram da Chechênia, da Bósnia, além dos subúrbios miseráveis de Londres e Paris.
É bom não esquecer que, há muitos anos, todos os dias é 13 de novembro na Síria.
Os mortos na Síria são, também, inocentes. Assim como os refugiados que fugiram para a Europa para salvarem suas vidas.
O governo Assad utiliza todos os meios para permanecer no poder reprimindo uma rebelião que nasceu pacífica.
Os bombardeios dos EUA, da França e da Rússia na Síria, os bombardeios da Arábia Saudita no Yemen, a invasão do Afeganistão, do Iraque, os massacres na Chechênia, a limpeza étnica na Bósnia teriam consequências.
A barbárie imperialista alimentou a barbárie terrorista.
A guerra não começou ontem.
E essa guerra não é nossa.

9 de nov. de 2015

O Lula de 2015 não é o mesmo Lula de 1979 - Por Valério Arcary


Por Valério Arcary - Direção Nacional do PSTU
* texto escrito um dia depois de Lula completar 70 anos, dia 28 de outubro de 2015

Ontem Lula fez 70 anos e o seu Instituto divulgou uma série de videos de personalidades que o saudaram e homenagearam.
O Lula de 2015 não é o mesmo Lula de 1979.
As pessoas mudam.
E Lula mudou demais, e para muito pior.

Porque ninguém com alguma experiência na vida se surpreende quando uma liderança de esquerda de origem intelectual muda de lado.
Isso aconteceu tantas e tantas vezes, que virou quase uma rotina.
Mas quando uma liderança de origem operária com as responsabilidades que Lula assumiu se transforma no contrário do era, esta transformação provoca imensa desmoralização na vanguarda proletária e socialista.
Muitos vídeos eram previsíveis e outros um pouco ...surpreendentes.

Chico Buarque era previsível.
Já a exposição do vídeo de Sarkosy, não.
Paradoxalmente, nos diz mais de Lula, do que o vídeo de Guilherme Boulos.
Porque ele e a classe que ele representa odiavam o Lula de 1979.
Mas se renderam seduzidos ao Lula que na presidência costurou o pacto social que deu estabilidade ao capitalismo periférico, quase sem reformas.
Esse é o papel central dos reformistas diante da história: permitir ao capital ganhar tempo, desmoralizar o sentido da luta socialista.
Guilherme, infelizmente, saudou uma saudade, uma memória, uma lembrança, uma nostalgia, um Lula que não existe mais.

A questão relevante que a data nos desafia é saber se o lulismo permanecerá ou não como a principal referência política dos trabalhadores.
Nunca houve na história contemporânea um matrimônio político indissolúvel da classe trabalhadora com um partido político, ou uma liderança.
A ruína do lulismo não será a primeira.
O PC italiano foi uma potência e entrou em colapso.
O Pasok grego teve influência imensa e desmoronou.
O peronismo foi tão forte quanto o lulismo e se transformou em uma caricatura irreconhecível.

Depois da crise do mensalão em 2005 o PT preservou, apesar de tudo, uma influência majoritária no proletariado. Entre 2003 e 2010, Lula fez um governo que recebeu aplausos quase unânimes do que há de mais reacionário no Brasil e no mundo: de Maluf a Delfim Neto, de Michel Temer a Henrique Meirelles, de Bush a Sarkozy, de Merkel a Putin, não faltaram entre os maiores banqueiros, empreiteiros e latifundiários vozes dispostas a admitir em público o deslumbramento das classes dominantes de todos os continentes com Lula e o PT.

Não fosse isso o bastante e, não obstante o impressionante desmascaramento do financiamento eleitoral através de relações obscenas com o empresariado – uma rotina de corrupção que o PT sempre denunciou - Lula surpreendeu pela resiliência de sua autoridade na classe operária. É verdade que as condições de crescimento econômico internacional entre 2004 e 2008 beneficiaram Lula e o governo. Mas, não foram somente estas condições externas favoráveis que podem explicar a perenidade da influência do PT na classe trabalhadora. E tampouco foram as mais de dez milhões de bolsas família distribuídas. A explicação para a permanência da influência do petismo nos setorres organizados da classe trabalhadora exige perspectiva histórica.

A reeleição de Lula em 2006, e a eleição de Dilma Rousseff em 2010 foram alicerçadas nos ventos favoráveis da situação econômica mundial entre 2003-2008, e a retomada do crescimento em 2010: a preservação da inflação baixa, o aumento lento, mas constante do salário mínimo, a preservação do salário médio, e a diminuição do desemprego que permitiram o acesso ao crédito, e a extensão de políticas públicas como o Bolsa-Família. Mas o Brasil começou a mudar desde junho de 2013.

As lutas de junho de 2013 foram as primeiras grandes mobilizações políticas de massas no Brasil que não foram dirigidas pelo PT desde 1980. Junho colocou em movimento, em certo sentido, ainda que parcialmente, uma geração que nasceu depois da fundação do PT e chegou à vida adulta, em grande medida, depois da eleição de Lula.
Junho alterou a relação social de forças, e deixou imprevisível até o último dia o resultado eleitoral das presidenciais de outubro de 2014.

Entre 1988 e 1994, o PT assumiu o governo de prefeituras e de governos estaduais e fez os primeiros pactos com a governabilidade. Em nome da consolidação da democracia não ofereceu resistência à posse de Itamar Franco, ou seja, recusou a luta por eleições gerais antecipadas, uma solução tão democrática e mais legítima que a posse do vice de Collor.

Entre 1994 e 2002, via fundos de pensão, e através das participações na gestão de fundos públicos, a burocracia sindical da CUT, ainda então o principal aparelho de apoio social da direção do PT, entrou no mundo dos grandes negócios com a burguesia.

Depois da eleição de 2002, o PT passou a ter relações orgânicas com o grande capital brasileiro, e passou a aceitar, com a crise do mensalão, o novo papel cesarista de Lula como líder incondicional.
E insubstituível.

O ápice da influência de Lula anunciava, todavia, a sua ruína. As ilusões reformistas dos trabalhadores não morrem sozinhas, é claro. Dependem de uma dura experiência prática: é neste terreno que as grandes massas podem retirar conclusões.
O que tem caracterizado a situação aberta depois de Junho de 2013 é que este processo se abriu.
A reorganização pela esquerda se desenvolve em novas condições.
Agora é possível.

Permanece muito difícil, mas é possível.

8 de nov. de 2015

Ato pelo Fora Cunha e contra a PL 5069 em Porto Alegre



Por Matheus Gomes

Neste sábado milhares saíram as ruas no primeiro grito de Porto Alegre pelo Fora Cunha. Foi uma mobilização importante, prova que existe um ascenso feminista no país. Convocado de forma espontânea, o ato envolveu centralmente mulheres jovens e contou com a presença de movimentos como as Mulheres em Luta (MML), Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL), Coletivo Primavera, Juntas, Marcha Mundial de Mulheres (MMM), entre outros. Uma ampla unidade de ação contra Cunha é necessária nesse momento. Dia 13 poderemos ter novos atos massivos em todo o Brasil. Essa pauta precisa ser assumida por todos movimentos, como os petroleiros em greve. Também será fundamental que o novembro negro enfrente Cunha, suas medidas nos atacam em primeiro lugar. Dia 20/11 a periferia e a negrada precisam marchar contra ele.

Só há um jeito de Cunha cair: tomando as ruas. Existe um acordo entre Dilma, Eduardo Cunha e a bancada fundamentalista desde 2010 quando a presidente assinou a Carta ao Povo de Deus, que rifou as pautas históricas das mulheres. Hoje esse acordão é o que impede Cunha de ir pra cadeia e causa esses retrocessos, em nome da governabilidade a pilula pode cair e o aborto permanecerá ilegal. O relator do processo na Comissão de Ética da Câmara é tão corrupto quando ele, a pizza já está no forno. A luta é a saída e quem preferir se abraçar em Cunha será levado junto também!

5 de nov. de 2015

A crise da MWM e a luta pelos empregos - entrevista com Vitor Schwertner


1)Opinião Socialista: Quantos anos você tem de metalúrgico e trabalhando na MWM? Conte um pouco da sua trajetória?

Vitor:  Tenho 48 anos, sou filho de pequeno agricultores e de uma grande família, 9 irmãos. Sou natural de Sarandi RS, meu pai tinha um pequena propriedade,  em 1970 vendeu as terras por não conseguir sustentar a família, foi para o oeste do Paraná em busca de mais terras no sonho de com a terra sustentar e criar seus filhos. Mas não demorou foi engolido pelo agronegócio. Vendo que ali já não iria sobreviver foi para o país vizinho Paraguai, em 1979, comprou alguns alqueires de terra. A Estória se repete o agronegocio massacra sem piedade os pequenos. Sem esperança de um futuro melhor em 1995, eu retorno para o Brasil. Venho morar em Canoas em busca de um emprego, rolei em vários setores até me afirmar como metalúrgico. Atualmente estou trabalhando há 12 anos na MWM International que faz parte do grupo Navistar americano e construindo a luta fiz parte de 3 mandatos da comissão de fábrica e um da federação dos metalúrgicos do RS, fizemos várias conquistas na fábrica, 40 horas semanais, a única metalúrgica da categoria e a própria comissão com estabilidade se tornou uma das melhores fábrica para se trabalhar no RS.


2) OS: Fale um pouco sobre a situação da Fábrica MWM motores? Existe a possibilidade de fechamento?

Vitor: Tenho 15 anos de metalúrgico e 12 de MWM. Éramos 1300 em 2011 quando conquistamos o contrato com a GM para montar o motor da S10. O contrato iria até outubro de 2018 anunciado como o melhor negócio do século e nós teríamos nossos empregos garantidos até final de 2018 como a produção anual de 45 mil motores podendo oscilar 15% a mais ou menos. Em 2013 começa uma briga para romper este contrato entre as duas empresas e as duas com o mesmo objetivo, a multa inicial  era de 140 milhões após um ano ambas chegam a um acordo, encerrar o contrado em fevereiro de 2016, ainda em 2013 começam as demissões aos poucos, em 2014 foi um ano de terror para os trabalhadores da MWM, com boatos de venda ou  fechamento da empresa mas a produção era obrigada a sair. Em maio de 2015, o diretor da empresa reuniu todos da fábrica e anunciou o calendário de encerramento das atividades que seria de novembro de 2015 a fevereiro de 2016 e oferece um pacote de “bondade” para os colaboradores que vestissem a camiseta até o fim das atividades de cada setor, dois salários e meio e  seis meses de plano de saúde após o fechamento da empresa isso com o aval da comissão de fabrica e sindicato. Caso os trabalhadores não aceitassem esse acordo perderiam tudo.

3) OS: O PT e a CUT dirigem a Prefeitura de Canoas e o Sindicato dos metalúrgicos de Canoas. Qual a postura dessas direções em relação a possibilidade de fechamento da empresa?

Vitor: Uma verdadeiro desastre! Dois anos de crise, dois anos de um verdadeiro assédio moral. O sindicato só se reunia com a direção da empresa, não realizou nem uma assembleia para discutir a crise ou a proposta da empresa e passa a lista do pacote de bondade junto com os supervisores  como se fosse uma assembléia para os trabalhadores assinarem, e se isso não bastasse intimida os trabalhadores se não assinarem estariam correndo o risco de perder os dois salários e meio oferecidos.
As autoridades políticas, o Senador Paulo Paim, O Prefeito Jairo Jorge, Nelsinho metalúrgico e Marco Maia que são deputados e que eram metalúrgicos, são filiados ao nosso sindicato, só aparecem na empresa em momentos festivos ou em épocas de eleições para pedir voto. Nem um político apareceu para defender nossos empregos, a cut só vejo defender a Dilma

4) OS:  O que será feito nas próximas semanas em relação a campanha contra o fechamento da fábrica?

Vitor: Estamos cobrando que o sindicato e prefeitura dirigidos pelo PT deixam de ter a política de omissão frente ao fechamento da empresa. Temos que ter assembléia para discutir a situação da empresa.  Politicamente estamos fazendo uma denúncia na assembléia legislativa sobre o fechamento da empresa que durante os últimos anos se aproveitou de dinheiro público para manter os empregos (incentivos fiscais), estamos encaminhando também a denúncia no ministério público do trabalho e ministério do trabalho. Queremos organizar um ato em frente a prefeitura de Canoas para chamar a atenção das autoridades para o fechamento da empresa.
 Nós os trabalhadores não aceitamos as propostas que a empresa negociou com o sindicato,  que é nada menos que "Morrer sendo fuzilado no paredão ou em uma  câmera de gás".
 Iremos lutar pelos nossos empregos!

4 de nov. de 2015

Por Que a Esquerda está dividida? Por Valério Arcary


 
Hoje vou escrever umas linhas sobre porque a esquerda está dividida, assunto que interessa a muitos de nós.
Há muitas razões.
Uma delas é que há diferenças de estratégia.
Estratégia é um assunto muito sério.
Estratégia política é o horizonte político que queremos.
As táticas devem estar subordinadas à estratégia.
E tem mais: estratégia não é algo que se muda todos os dias.
Pode mudar, claro, mas somente diante de grandes mudanças da situação.
Então, é muito importante saber quais são as diferenças de estratégia que dividem a esquerda brasileira.
Ensina a sabedoria popular:
Cuidado com o que desejas...porque você pode conseguir.
Desde 2013, quando pela primeira vez em dez anos se abriu uma crise política séria, a maioria da esquerda brasileira afirma que não restaria aos socialistas alternativa melhor, senão a proposta de Assembléia Constituinte Exclusiva para uma Reforma Política.
Essa proposta foi abraçada, em primeiro lugar, pela própria Dilma Rousseff.
Depois passou a ser esgrimida com páixão por várias correntes da esquerda do PT, e até por setores moderados, além do PCdB.
Foi abraçada, também, pelo MST, e pelo Levante Popular da Juventude.
Setores do Psol uniram-se à campanha.
Até o MRT que surgiu da LER, defende a proposta de uma Assembleia Constituinte, embora sem a qualificação de exclusiva, uma versão que não melhora a proposta, ao contrário.
Ou seja, a imensa maioria da esquerda brasileira, dos mais moderados aos mais radicais.
Por que a estratégia de democratizar a democracia está errada?
Constituinte para uma reforma política é isso, e somente isso: a reforma deste regime democrático de presidencialismo de coalizão por outro menos antidemocrático. Portanto, democratizar o regime democrático.
Os defensores desta estratégia esgrimem três argumentos principais.
Em primeiro lugar, ela corresponderia à atual relação social e política de forças, já que não se abriu ainda no Brasil uma situação revolucionária.
Seria necessária, nessas circunstâncias, uma palavra de ordem plausível, viável, compreensível, ou seja, democrática radical.
Em resumo: uma mediação.
É verdade que não se abriu uma situação revolucionária no Brasil, mas não será a campanha por uma Constituinte exclusiva que irá encurtar o caminho.
Mediações são necessárias na luta política.
Mas mediações devem ser pontes, ou seja, reivindicações transitórias que unam as lutas de hoje, com a perspectiva estratégica.
Não servem mediações que nos desviam do que queremos.
A proposta de Constituinte é deseducativa e aventureira, porque transfere para o futuro Congresso poderes para revisar a Constituição em vigor por maioria simples.
Muito bem: quais são as garantias de que a composição desta Constituinte não seria igual ou ainda pior que o atual Congresso? Por quê deveríamos diminuir o risco de uma revisão constitucional reacionária? Esta não tem sido a orientação estratégica fundamental da burguesia nos últimos quinze anos, inconformada com os poucos direitos impostos pela pressão de massas nos anos oitenta? Não seria perigoso facilitar essa revisão?
Não é verdade que os socialistas têm que levantar sempre uma palavra de ordem de poder positiva em seu programa de agitação política, isto é, poucas idéias para muitos - que corresponda à consciência média dos trabalhadores.
Na verdade, as palavras de ordem sobre a questão do poder são, invariavelmente, negativas, ou seja, variações de Nenhuma ilusão, Nenhuma confiança, Basta, Chega, Abaixo e Fora, seja uma parte do governo burguês de plantão, ou todo o governo.
A alternativa de poder pela positiva, quando em situações não revolucionárias, é sempre propagandística, isto é, muitas idéias para poucos - ou seja, uma explicação longa da necessidade dos trabalhadores construírem através de seus instrumentos e organismos de luta, uma saída anticapitalista. Por isso defendemos um Governo socialista dos trabalhadores, e confessamos que é ultra-propagandística. Só alguém que chegou ontem de Marte ignora que não há hoje no Brasil organismos dos trabalhadores que possam concretizar a resposta à pergunta: quem deve governar?
Isso é assim porque os instrumentos de luta que vieram dos anos oitenta, CUT e UNE, foram destruídos pelo PT e pelo PCdB, que os amordaçaram, burocratizaram. E as novas organizações como instrumentos de luta pela frente única que surgiram nos últimos anos são minoritárias.
Não há mistério algum: só em situações revolucionárias é que as palavras de ordem de poder revolucionárias podem ser abraçadas pelas massas. Aliás, esta é uma das características chaves de uma situação revolucionária.
O segundo argumento apresentado para justificar a estratégia democratista tem sido a defesa incondicional das bandeiras democráticas como bandeiras que adquirem, ou podem adquirir, um caráter transicional. O equívoco desta formulação é o incondicional.
Podem ou não. Depende. Muitas vezes, não.
Não há "abre-te sésamo" em política marxista.
Seria muito mais simples se existissem fórmulas mágicas e universais, mas não há.
A luta pela revolução não vem com um manual de uso, com tudo previsto e explicado. O papel de todas as palavras de ordem, à exceção das diretamente anticapitalistas como expropriação, é condicionado pelas circunstâncias concretas. A burguesia prevê, manipula, age, se antecipa, elabora plano A e plano B.
A tradição marxista-revolucionária sempre defendeu a atualidade das reivindicações democráticas - em especial nos países periféricos onde a revolução por fazer será a simultaneidade de várias revoluções - agrária, antiimperialista, negra, feminista, anticorrupção e, também, em permanência, anticapitalista - mas nunca confundiu reivindicações democráticas com a defesa da reforma do regime democrático-liberal.
Os socialistas reconhecem que no Brasil há uma revolução democrática por fazer, porque há tarefas democráticas pendentes. Distingue, todavia, aquelas palavras de ordem democráticas que podem ameaçar o regime democrático daquelas que podem ajudar a fortalecê-lo.
É sabido que a luta por uma segunda independência pode assumir um caráter transicional, ou seja anticapitalista, assim como a luta pela reforma agrária. Pode, mas não há garantias fora do processo real de mobilização do proletariado e seus aliados sociais.
Até estas palavras de ordem estarão condicionadas à dinâmica de classe do processo de luta. O conteúdo social anticapitalista dependerá da entrada em cena do movimento dos trabalhadores de forma independente.
Senão, nem isso.
Admito, portanto, que existem reivindicações democráticas progressivas. Mas, eleições para uma Constituinte?
O que há de revolucionário em defender uma nova Constituinte no Brasil, em 2015, trinta anos depois do fim da ditadura, se a mudança da Constituição tem tudo para ser regressiva?
Ou a eleição do atual Congresso, realizada mais de um ano depois de Junho de 2013, não favoreceu uam representação ainda mais reacionária?
O terceiro argumento é o que afirma que a campanha pela Constituinte permite uma frente com mais aliados, maior possibilidade de mobilização.
A política marxista é dialética e não absolutiza as formas fora dos contextos e dos conflitos. Há mobilizações de massas que são progressivas e outras que são reacionárias. Para os socialistas a interpretação do que pode ser progressivo está condicionado por um critério de classe: o que ajuda a avançar a organização e favorece o combate dos trabalhadores e seus aliados. Existem reivindicações democráticas que podem ser progressivas em um contexto e regressivas em outro.
O direito ao habeas corpus é progressivo, quando o reivindicamos para retirar um líder dos sem terra da cadeia, mas é reacionário quando é esgrimido para poupar Paulo Maluf da prisão. A luta contra o sigilo bancário dos deputados é legítima, mas é reacionária quando é usada para investigar a transferência de verbas das cooperativas da Reforma agrária para financiar as ocupações de latifúndios. A luta contra os paraísos fiscais é progressiva, mas os tribunais especiais para presidentes, governadores e deputados são reacionários.
Por essa razão, mas por outro ângulo, não é correto, também, nas atuais circunstâncias, levantar a bandeira do impeachment de Dilma Rousseff. O impeachment é a proposta da derrubada de Dilma Rousseff em um julgamento feito pelo Congresso Nacional, ou seja, a derrubada de Dilma pelo PSDB e seus aliados em negociação com a ala do PMDB de Eduardo Cunha.
Na atual conjuntura, essa bandeira seria uma capitulação da oposição de esquerda à oposição de direita. A queda do governo Dilma seria progressiva, desde que acontecesse tendo como sujeito social os trabalhadores e a juventude. Se Dilma viesse a ser derrubada pela oposição de direita, hipótese ainda longínqua, mas não descartável, estaríamos diante de uma evolução desfavorável da situação política

3 de nov. de 2015

DENÚNCIA SOBRE FECHAMENTO DA MWM EM CANOAS

Nesta quarta-feira (04), no plenário da Assembleia Legislativa do RS, o deputado Pedro Ruas (PSOL), estará denunciando o fechamento da segunda maior empresa metalúrgica de Canoas, fabricante dos motores da S-10 para GM, fábrica de caminhões e centro de distribuição de peças. Em Canoas, a MWM mantém também uma linha de montagem de caminhões da marca Navistar International. Depois de receber incentivos fiscais do governo, a empresa poderá desempregar mais de 1.200 trabalhadores, sendo que 600 já foram demitidos.


No final de fevereiro, a MWM rompeu contrato e não mais montará os motores para a General Motors (GM). O contrato com a GM valeria até 2018, mas a montadora irá transferir a construção de motores  para a  fábrica da GM em São José dos Campos  em São Paulo.  A estratégia da empresa era vender a fábrica para a montadora chinesa Sinotruk, entre outras montadoras de caminhões chinesa. Como não avançou a fábrica será fechada. Gerando desemprego e agravando a situação dos e das trabalhadoras da fábrica.

Existe uma grande omissão do sindicato dos metalúrgicos de Canoas e região, que ao invés de lutar pelo não fechamento da fábrica aceitou o acordo proposto pela direção da empresa, o que gerou indignação nos funcionários e funcionárias da empresa. Segundo o metalúrgico Vitor Luiz Schwertner, os trabalhadores estão “completamente decepcionados com atuação do sindicato”.

Após dois anos de crise na empresa e ameaça permanente de demissões em massa, a direção do sindicato nem sequer se manifestou no boletim da categoria para pelo menos noticiar o que estava acontecendo.

Um dos líderes dos trabalhadores da MWM , o operário Vitor, destaca ainda que o sindicato dos metalúrgicos não realizou reunião com os operários e operárias da fábrica, mas avalizou a proposta da direção da fábrica assim mesmo. Sem ouvir a categoria e se submetendo as regras proposta pela multinacional.

Segundo a proposta da empresa será concedido um bônus de 2,5 salário mais seis meses de plano de saúde e a liberação da fundo de previdência privada.

No entanto, os trabalhadores estão dispostos a lutarem para manutenção de seus empregos. Entre as ações previstas está à realização de denuncia na Assembleia Legislativa nesta quarta-feira pelo deputado estadual Pedro Ruas (PSOL), também será enviada uma representação ao Ministério Público e a delegacia regional do Ministério do Trabalho.

Outra estratégia dos trabalhadores é a realização de um ato em frente à prefeitura de Canoas cobrando uma posição da Administração Municipal diante do fechamento da fábrica que deixará desempregado em torno de 1.200 trabalhadores em sua maioria moradores da cidade.

Segundo Vítor Schwertner, o sindicato negociou com a empresa duas opções para os trabalhadores : “Se nós queríamos morrer fuzilados no paredão ou numa câmera de gás. Nós queremos morrer lutando por isso estamos organizando diversas ações para denunciar e pressionar as autoridades e o sindicato a tomarem uma posição a favor dos trabalhadores e não a favor da empresa que tem como proposta apenas a demissão dos operários”.

1 de nov. de 2015

Ótimo resultado eleitoral da FIT na Argentina!



Por Matias Martinez da Direção do PSTU Argentino

No cenário político surgido das eleições argentinas, a boa notícia notícia para os trabalhadores e o povo é que a FIT(Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) teve uma boa eleição. O resultado obtido, somado aos resultados obtidos ao longo de 2015, o consolida como alternativa eleitoral de esquerda no país e confirma que existe um espaço para disputar pela esquerda a ruptura com o Kirchnerismo expressada nestas eleições.

Os quase 800.000 votos para presidente( aumentando 300.000 votos em relação  a 2011) e os quase 950.000 votos obtidos pela FIT para deputados nacionais em todo o país, permitiu que superasse o resultado obtido nas PASO(Eleições primárias, abertas, Simmultâneas e obrigatórias) do mês de Agosto e conseguir ser a quarta força política do país, colocando a Frente Progressista de Margarita Stolbizer em quinto lugar e obtendo um novo mandato na província de Buenos Aires que permitirá contar com 4 deputados da FIT no Congresso Nacional até 2017.

Frente a polarização da campanha entre as candidaturas do ajuste(FPV, Cambiemos, UMA) que arrastaram para si a maioria do eleitorado, a FIT conseguiu resistir a pressão do voto útil e colocar-se como a única proposta distinta, com um programa alternativo que colocava uma saída operária e popular perante a crise nestas eleições. Esta votação é uma conquista dos trabalhadores que devemos valorizar.

Por sua vez, é importante destacar que a FIT tem obtido importantes votações em regiões importantes como a capital de Córdoba com 9%, a capital de Salta com 10%, na grande Mendoza com 14%, Neuquen com 8%.



A falta de uma campanha unitária enfraqueceu a FIT

Além da boa eleição realizada, é importante não cair no exitismo e fazer uma reflexão sobre os erros cometidos. Em primeiro lugar, não se pode deixar de observar que em relação a 2013 a FIT perdeu 265.000 votos para deputados nacionais, um pouco mais de 22% dos votos. Esta tendência já haviamos observado nas PASO e alertado na páginas do nosso jornal( Avanzada Socialista 93) mas não fomos escutados.

O PSTU Argentino vem afirmando fraternalmente que a falta de uma campanha unitária dificulta o desempenho eleitoral da própria FIT. Manifestamos nossa opinião que a participação nas PASO com duas listas se enfrentando para obter uma maioria foi um erro e tem se comprovado que se perdeu muita energia no enfrentamento interno, secundarizando o enfrentamento com os candidatos do ajuste.

Depois das eleições primárias tampouco se avançou em mostrar uma campanha unitária de todas as forças que compõe a FIT. Além de qualquer ato ou conferência de imprensa conjunta, a campanha seguiu marcada pela autoproclamação e cada força da FIT fez sua própria campanha. Não foi atendido nosso pedido de convocar todas as organizações que apoiam o programa da FIT para fazer uma campanha unitária.

Por sua vez, ficou evidente que as propostas políticas programáticas tem ficado relegadas em segundo plano frente o objetivo de eleger algum candidato. A necessidade de obter deputados da esquerda foi o centro da campanha, como um fim em si mesmo, chegando ao extremo de colocar a eleição para presidente atrás desse fim. Podemos comprovar isso observando os cartazes e panfletos eleitorais da campanha.

É importante obter deputados da FIT e temos que valorizar isso, mas em relação as eleições anteriores, a campanha esteve mais vazia de conteúdo. Acreditamos que esses erros nos impediu de aproveitar melhor a campanha e devemos debaté-lo entre todos que apoiam a FIT.

Inadmissível a proscrição dos candidatos do PSTU nas listas da FIT

Como é sabido, apesar da oposição do PSTU Argentino, nas PASO foram apresentadas duas listas para competir nas internas da FIT, uma liderada pelo companheiro Del Caño  e a outra pelo companheiro Altamira. Foi acordado que após as PASO se definiriam as listas definitivas combinando as candidaturas de ambas as listas apresentadas integrando-as proporcionalmente de acordo com o resultado das internas (de acordo com o método de D'Hondt).

Com base neste critério os companheiros do PSTU, José "Moncho" Escobar, um membro do sindicato SUTEBA Escobar que figurava na lista encabeçada por Jorge Altamira na PASO como o quarto na lista de candidatos a vereador pelo seu distrito; e o companheiro Daniel Acuña representante dos professores e estatais  e candidato a Décimo vereador pela mesma lista em Almirante Brown, seguiriam nas listas finais de seus distritos, localizados alguns postos mais abaixo.

No entanto, quando foi conhecida a lista final nenhum dos companheiros estava na lista. Em seu lugar apareceram companheiros de outras organizações que não correspondiam a estas candidaturas. Também "desapareceram" candidaturas pelo PSTU em Tres de Febrero, Avellaneda, San Miguel, que deveria estar nas listas.

Esta usurpação de candidaturas se deu sem que nossa organização ou nossos companheiros tivessem tido a mínima consulta . Apesar das repetidas tentativas de nossa parte, o PSTU não teve acesso a reuniões com os membros da FIT ou outro mecanismo para resolver este problema.

A exclusão de nossos candidatos das listas tem causado uma forte oposição e desconforto entre muitos ativistas independentes e inclusive militantes de partidos integrantes da FIT.
Nesta situação, o nosso partido não decidiu relatar o assunto publicamente nesse momento, já que o nosso objetivo em nenhum momento foi a disputa de cargos ou por travas, mas promover a campanha eleitoral de maneira unitária.

Agora, depois das eleições, se fazemos  público a denúncia  porque consideramos que estes métodos burocráticos são inadmissíveis entre aqueles que se consideram revolucionários e deve ser erradicados das fileiras da esquerda.

Alguns resultados para Deputados Nacionais obtidos pela FIT ( Informe recolhido pelo PSTU RS)

Ciudad de Buenos Aires: 106.310 votos (5,50%)

Provincia de Buenos Aires: 389.846 (4,51%)

Mendoza: 123.225 (11,77%)

Córdoba: 119.243 (5,67%)

Jujuy: 17.174 (5,46%)

Neuquén: 27.898 (8,31%)

Salta: 42.255 (6,64%)

Santa Fe: 71.909 (3,84%)


Tucumán: 25.391 (3,22%)