O Haiti é aqui
No dia 10 de abril, as duas principais candidaturas à presidência promoveram grandes eventos ao mesmo tempo. José Serra fez o ato de lançamento de sua candidatura com todo o PSDB reunido em Brasília. Dilma Rousseff fez uma atividade no ABC Paulista com seu patrocinador, o presidente Lula.
Enquanto isso, o povo do Rio de Janeiro chorava mais de 230 mortes com os desabamentos provocados pelas chuvas. Tanto Lula quanto seu aliado Sérgio Cabral, governador do Rio, culparam a natureza e os pobres moradores das áreas devastadas pelas mortes. Segundo eles, são os pobres que insistem em morar em áreas de risco.
Há pouco mais de um mês, era o povo paulista que lamentava 78 mortes pelos alagamentos das chuvas. O então governador Serra e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) fizeram o mesmo, se livrando de qualquer culpa: segundo eles, o problema é que choveu muito e a população joga lixo nas ruas, provocando alagamentos.
Famílias inteiras morreram. Outras tantas nunca mais se recuperarão de suas perdas. Os trabalhadores e jovens de todo o país, que acreditam em sua maioria no governo Lula, deveriam refletir sobre essa coincidência. Perante tragédias duríssimas, as reações de Lula e Serra foram idênticas.
Vindo da parte de Serra, seria de se esperar este tipo de reação. Afinal, ele representa a grande burguesia que mora em áreas seguras das cidades, e não nas regiões alagadas. A preocupação maior do PSDB não era com os desabrigados, mas com os reflexos eleitorais da catástrofe.
Mas... e Lula? O problema é que o PT tem como objetivo governar para a grande burguesia, exatamente como o PSDB. Por isso, reage da mesma maneira às catástrofes.
Não é por acaso que outras “coincidências” ocorrem. Os lucros dos bancos bateram recordes no governo FHC... e no governo Lula. O governo FHC foi aplaudido entusiasticamente pelos governos imperialistas dos EUA, Inglaterra e França. Lula foi mais apoiado ainda. O PSDB e o DEM ganham centenas de milhões de reais das grandes empresas para concorrerem às eleições. O PT de Lula recebe da burguesia mais que esses partidos de direita juntos.
A experiência haitiana
O terremoto do Haiti mostrou ao mundo emocionado a combinação de um desastre da natureza com uma catástrofe social. Os estragos do terremoto não seriam tão gigantescos caso não houvesse uma estrutura capitalista que agrupou dois milhões de pessoas em casas precárias e sem assistência médica. As tropas de ocupação, dirigidas pelo Exército Brasileiro, nada fizeram para ajudar nos problemas sociais antes ou depois do terremoto.
Não por acaso, tanto Lula como Serra têm a mesma posição em relação ao Haiti, respaldando a ocupação militar. Tampouco é por acaso que Zé Maria, pré-candidato a presidente pelo PSTU, acaba de chegar do Haiti. Sua entrevista nas páginas centrais desta edição do Opinião Socialista é um depoimento terrível: a situação catastrófica do povo haitiano segue a mesma depois do terremoto, agora sem as luzes da imprensa internacional.
Não existe nenhum apoio, nenhuma ação humanitária das tropas. Os sobreviventes seguem morando nas ruas, sem comida nem atenção médica, e o período de chuvas começa agora em abril.
Da mesma forma como aqui, no Haiti os governos alegam não ter nenhuma culpa. O problema foi o terremoto, e não a exploração capitalista. Tanto no Rio como em São Paulo, o problema foi a chuva... e os pobres. Para eles, assim que acabarem as luzes da imprensa, vai sobrar a repressão policial.
Por isso, é necessário uma alternativa própria dos trabalhadores, contrária aos dos dois blocos principais que só servem à grande burguesia. Por isso, é necessária uma alternativa classista e socialista para o país, como a candidatura de Zé Maria.