Quaisquer dicionários definem a palavra ilusão como o engano dos sentidos, de modo que a realidade é interpretada erroneamente. Esse conceito, todavia, recebe atualmente outro significado: é usado majoritariamente pela mídia, governos e grandes empresários, com a finalidade de enganar as massas brasileiras. O caso da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, é um ótimo exemplo: utilizado para ludibriar perante a opinião pública a imagem dos indivíduos que participamde manifestações, e a partir daí justificar um aumento na escalada repressiva, omitiu o fato de quem realmente agride os profissionais do jornalismo.
Quem agride os
jornalistas?
Ainda que essa tenha sido a única morte recentenoticiada pela
imprensa de massa, inúmeros jornalistas têm sido vítimas de violência.O curioso
é que, ao contrário do que diz a grande mídia, é a própria polícia quem – em
regra – agride os jornalistas, inclusive os da grande mídia. Recentemente, a ABRAJI
(Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou que, de junho pra
cá, 138* profissionais da imprensa sofreram ataques enquanto acompanhavam as
manifestações. Só em São Paulo foram 68 ataques registrados, sendo 91% da
polícia (e os outros 9% de guardas municipais, seguranças privados e
manifestantes). No ato ocorrido em São Paulo, no dia 22 de fevereiro, 19
jornalistas foram detidos e no mínimo cinco foram agredidos. Entre o que se
caracteriza genericamente por “ataque” se inclui homicídio, tentativa de
homicídio, ameaça de morte, agressão física ou prisão arbitrária. Aqui não está
registrado, por exemplo, danos ou confiscos de equipamentos.
Mesmo que a imprensa custe a divulgar, segundo a Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, nos últimos seis anos no Brasil,
três casos de violência a profissionais da imprensa foram registrados, em média,
por mês. Não é à toa que o Brasil está em 10° lugar, em uma pesquisa realizada
pelo Comitê de Proteção aos Jornalistas, no ranking dos países mais perigosos
para essa profissão, atrás de Nigéria e Índia. É interessante analisar o porquê
de a maioria dos jornais ocultar, muitas vezes, tais informações. Como diria
Lenin “Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra dela pelos ricos,
servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública”.
A tragédia de Santiago
não pode virar um marco do aumento da repressão
Portanto, exibir a morte de Santiago como uma exceção e que os
culpados são os manifestantes é demasiadamente equivocado. Uma peça de
propaganda a serviço de justificar a repressão e a crescente criminalização do
movimento social. Não há dúvidas de que, para garantir os privilégios das
grandes multinacionais e, principalmente, o megaevento da Copa do Mundo, o
governo utilizará de todos os meios possíveis para que não haja protestos,
ainda que os protestos sejam, inegavelmente, legítimos e apoiados por ampla
maioria da população. Querem usar da tragédia de Santiago não um balizador da
proteção aos profissionais de imprensa, mas um marco do aumento da repressão aos
movimentos sociais.
Fim da repressão já!
O PT que governa o país, vários estados e municípios, que teve
sua história fundida com a história da luta contra a ditadura militar, em 2014,
nos 50 anos do golpe, tem a obrigação de suspender a repressão imediatamente,
barrar o AI–5 da FIFA (Lei antiterrorismo), arquivar os inquéritos e atender as
demandas populares. Só assim os profissionais do jornalismo estarão mais
protegidos. Infelizmente, a perspectiva realista não aponta esse caminho, com a
repressão cada vez maior por parte dos governos petistas com seu medo crescente
da esquerda, da qual eles se afastam a cada dia.
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*Estima-se que o número seja muito superior, uma vez que não há
uma estatística formal por parte do Estado. São um levantamento da ABRAJI a
partir de pesquisas e denúncias. Além disso, o levantamento não leva em conta os
casos não relacionados diretamente com os movimentos sociais. Não leva em conta
casos de violência relacionados a milícias, corrupção, traficantes, fronteiras,
etc
por:
L. Fogaça (estudante de Letras na UFRGS),
Camila S. (estudante do colégio Israelita em Porto Alegre) e
Willian M. (doutorando em Letras na UFRGS)