16 de out. de 2014

Contax lucra ainda mais com a exploração de mulheres, jovens negras e homossexuais


Junto aos lucros da empresa, sobem também os níveis de estresse e doenças nos trabalhadores
Por Aline Costa - Jornalista

A Contax, como todas as empresas de telemarketing/Call Center, faz o controle do tempo médio de operações. Não só do número de telefonemas que são feitos e atendidos, como do tempo médio para equacionar algum problema com o cliente.
Há também o chamado “trabalho prescrito”, onde os trabalhadores praticamente têm tudo decorado, ou em um papel que diz o que deve responder, como deve falar, a entonação da sua voz, etc. Caso fuja do script da empresa, o chefe (que, não por acaso, geralmente também é uma mulher) é orientado a dar uma advertência ao trabalhador.
O tíquete-refeição, além de ser uma quantia irrisória (R$4,25), em algumas empresas se trata de fichas para resgate de alimentos nada saudáveis e de baixo valor que, “coincidentemente”, têm o mesmo preço das porcarias que podem ser retiradas nas máquinas chamadas Tok Take. Além disso, a carga horária delas permite, em média, 15 minutos para a alimentação, o que é muito pouco. Finalmente, algumas empresas não concedem sequer esse tempo, dando os 15 minutos mas depois prolongando a jornada de trabalho para compensar.
As conseqüências dessas ações nos trabalhadores são diversas: vários tipos de doenças decorrentes daintensificação do trabalho, como problemas na voz, na audição, estresse em função dos frequentes maus tratos que recebem dos clientes – que por vezes xingam por algum desconforto em relação ao serviço que a empresa oferece. A junção desse tratamento dado aos trabalhadores é previsível e preocupante, mas a empresa, pelo nível de rotatividade dos empregados, não se preocupa com isso. Aliás, a rotatividade se dá essencialmente por esse motivo: após alguns meses de trabalho, o sofrimento, os adoecimentos, o desgaste são de tal intensidade que o que o trabalhador mais quer fazer é sair daquele lugar.
Empresa manipula pessoas e estimula competições entre os trabalhadores para evitar que reivindiquem seus direitos
Os trabalhadores das empresas de telemarketing são chamados de “colaboradores”. A denominação tem um significado forte, mas pouco perceptível por quem precisa daquele emprego. Colaborador não se enquadra em nenhuma categoria de trabalho e é uma clara maneira de envolver os empregados na falsa ideia de fazerem parte do crescimento da empresa. Alguns poucos até recebem certo status de supervisor (um colaborador de nível mais avançado) para que se sintam acima dos outros, mesmo que financeiramente também ganhem pouco, às vezes até menos do que um simples operador.
Também não é por acaso, que são alimentadas pela empresa as “rixas” entre os trabalhadores, com o estímulo de competições (metas e premiações) entre eles e estruturas que fazem com que um setor cause problemas ao outro. Os trabalhadores são separados por “baias”, que são divisórias para evitar que tenham contato, conversem, que tenham algum momento de sociabilidade, sob o argumento de que precisam focar no que fazem.
É preciso continuar mobilizado
A luta dos trabalhadores e trabalhadoras da Contax, portanto, mais do que justa, é necessária. Há muito mais a reivindicar. Mas, neste momento, o Sinttel, que representa a categoria, está dizendo NÃO ao assédio moral e exigindo o recebimento do piso mínimo regional de R$ 850,00, pois atualmente é pago a eles o mínimo nacional de R$ 724,00. Também querem aumento real no ticket alimentação, que hoje é de R$ 4,25, e o fim da terceirização. Quanto isso diminui no bolso do patrão? Tendo em vista os lucros exorbitantes declarados pela empresa, quase nada.
No entanto, quase nada é o que eles querem dar. A Contax ofereceu apenas R$ 0,10 de aumento no vale-alimentação. Depois de muita luta dos trabalhadores, esse valor passou para R$ 0,35. É um vale-fome! E os ataques seguem: para o salário? Nada. Assédio? Não existe! Fim das terceirizações? Como, se a empresa presta serviços terceirizados para grupos como Net, Cielo e Oi, alimentando-se das políticas governamentais que estimulam a precarização do trabalho? Mas a intransigência da Contax não amedronta. O Ministério Público do Trabalho no RS garantiu o direito de greve dos trabalhadores. Eles continuam de braços cruzados e acreditando na forma mais eficaz de mudar essa situação e conquistar vitórias: a organização e a luta! 

Quem passar durante o dia em frente à Contax, no Bairro Navegantes, vai ouvir um coro de vozes cantando num só tom: “Sem aumento não têm atendimento!”.

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