Por Chico da Silva - Metalúrgico
Os trabalhadores da região metropolitana de Porto Alegre tiveram
momentos terríveis nas últimas semanas. Se as demissões, a violência, as
péssimas condições de trabalho, transporte e moradia já não eram suficientes,
na segunda quinzena de julho choveu muito e o povo sofreu com as enormes
enchentes. Muitas famílias, que já tinham muito pouco, agora perderam tudo:
móveis, eletrodomésticos, roupas e documentos. Como tudo na sociedade
capitalista, os trabalhadores são os que mais sofrem. Nas mansões e prédios dos
bairros ricos não tem alagamento.
Já na segunda feira, após trabalhar um dia ensopado numa fábrica da
região, Ricardo chegou em seu bairro na Vila São Geraldo, em São Leopoldo, e
sequer conseguiu chegar perto de casa porque a água já estava acima da cintura.
Ele tentou sair ao meio dia da fábrica pra tentar salvar alguma coisa, já que
as enchentes no bairro dele ocorrem todos anos. Mas como outros colegas sequer
tinham ido ao trabalho por causa das enchentes, o chefe disse: “Não dá Ricardo!
Se não quem vai tocar a produção?”.
Segundo o
último balanço da Defesa Civil estadual, divulgado no final da tarde do dia 15
de julho,, 4.856 pessoas foram atingidas pela chuva. Dessas, 716 estão
desabrigadas (levadas para abrigos do poder público) e cerca de 4.100
desalojados (na casa de familiares e amigos). A chuva já afetou 41 cidades no
estado e mais de 60 mil pessoas ficaram sem luz por alguns dias no RS. O número
certamente é maior porque em vários locais o auxílio das prefeituras e órgãos
públicos ainda não chegou.
Esteio foi
o local mais atingido com enchentes e até o dia 16 de julho ao menos 600
pessoas permaneciam fora de casa. Os bairros mais afetados são os próximos ao
arroio Navegantes, próximo da Morada I e II. Em Sapucaia do Sul, segundo a
Defesa Civil, 70% dos bairros tiveram algum tipo de alagamento e centenas de
casas estão debaixo d’água nos bairros Fortuna e Carioca, próximo do arroio
Carioca.
A culpa é do São Pedro?
Os prefeitos, vereadores e grandes empresários da Região Metropolitana
de Porto Alegre (RMPA) querem se livrar de qualquer responsabilidade pelas
enchentes dizendo que a culpa é do São Pedro que tá mandando muita chuva. É
verdade que choveu muito. "A média de chuva no mês de julho no estado é de
cerca de 120mm. Somente de domingo a terça tivemos 200 mm. Ou seja, quase o
dobro do mês todo", disse ao site da Globo o subchefe da Defesa Civil no
estado, tenente-coronel Alexandre Martins de Lima.
Mas é mentira que a chuva pegou os governos desprevenidos. As enchentes
na região, principalmente nas vilas e bairros populares, não são nenhuma
novidade. Conversamos com antigos moradores de Esteio que vivem na cidade desde
que ela era um distrito de São Leopoldo e eles afirmam que todo ano tem
enchente em Esteio. Segundo a comunidade, isso piorou muito depois da
inauguração da Rodovia do Parque (BR 448). Isso porque a rodovia separou uma
grande área de banhado que antes servia como escoadouro da água. Agora a água
dos arroios não tem para onde ir e então alaga ainda mais. Além disso, foi
inaugurado um dique de contenção do arroio Sapucaia, em Esteio, há 3 anos que
desmoronou. Não ficaríamos surpresos caso a obra tenha sido superfaturada, a
exemplos de tantas outras.
E além disso a RMPA é responsável por 48% de toda a atividade
industrial do RS e seu PIB representa, sozinho, mais do que de todo o Equador e
é semelhante a Eslováquia no leste europeu. O problema é que os capitalistas
sugam toda a riqueza produzida e o povão fica com nada. “Não faltam recursos, o
problema é que os recursos dos municípios vão parar no bolso dos grandes
empresários através de isenções de impostos, benefícios e renúncias fiscais. E
uma boa parte vai para o Estado e o Governo Federal que, dali em diante, manda
para os banqueiros e outros bandidos. Fora todos os privilégios dos políticos.
Além disso, a especulação imobiliária, em parceria com os governos municipais e
a conivência dos órgãos de fiscalização, levam a população pobre para os piores
locais de urbanização, principalmente os morros, banhados e as zonas mais
distantes dos serviços públicos ” afirma Matheus Gomes do PSTU. Ele destaca
ainda: "É
um absurdo que famílias inteiras fiquem em meio ao esgoto e o lixo e percam os
bens adquiridos com muito suor. É humilhante, ainda mais quando sabemos que nas
áreas ricas onde moram os políticos a chuva não faz estrago, eles nos exploram
e roubam o dinheiro público que poderia ser investido no saneamento básico e
obras de infraestrutura e ainda riem à toa. Mas a solidariedade da população é
trabalhadora é encantadora, muito maior que a hipocrosia dos governantes."
O biólogo Jackson Müller (confira a
entrevista completa http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/532015-ferramentas-de-prevencao-contra-enchentes-ja-existem-faltam-medidas-locais-eficientes-entrevista-especial-com-jackson-mueller) levanta alguns fatores para os
frequentes alagamentos na região: “verifica-se que há grandes falhas quanto aos
aspectos de manutenção das estruturas de drenagem da(s) cidade(s), além (...)
de fatores (...) como intensa impermeabilização, ocupação das planícies de
inundação de arroios e córregos, aumento das chuvas torrenciais, assoreamento,
drenagens urbanas insuficientes para os picos de chuvas, disposição de lixo nos
bueiros e entupimentos.”.
A culpa
é do governo e da elite que manda no governo!
Esteio e
Sapucaia estão nas mãos do PT há pelo menos oito anos e contam com maioria na
câmara de vereadores. Depois de oito anos de governo, o que mudou nas cidades?
O que fez o PT de lá pra cá? Acompanhando a revolta contra o governo federal, é
com essas perguntas que os trabalhadores chegam a conclusão de que o PT age
igual aos outros partidos. Esse é o sentimento nas fábricas, onde muitos
tiveram familiares ou foram diretamente atingidos pelas enchentes. Hoje, o PT
na região é um sócio ou pelo menos um cão de guarda das famílias Bettanin,
Reis, Rocha, Pedrotti e Gerdau que mandam nas cidades.
Começou a
aparecer na cidade de Esteio placas e faixas dizendo que a culpa é do PT e do
PMDB que juntos governam a cidade. Mas os financiadores desta ideia são os
representantes dos partidos burgueses de oposição que governaram Esteio por oito
anos e fazem isso para livrar sua cara e sair na frente na disputa eleitoral do
ano que vem. Não, não mesmo! São cúmplices desse crime contra o povo!
O que
fazer?
A previsão
do tempo indica continuidade de chuva forte para os próximos dias. O pesadelo
ainda não acabou. E enquanto os trabalhadores não saírem às ruas exigindo
imediatamente soluções, o problema seguirá. Os prefeitos, vereadores e o
judiciário não virão em auxílio, a não ser que sejam pressionados a isso. O
urgente é cuidar dos impactos. Que o prefeito intervenha e utilize os hotéis da
família Klein e Pedrotti para a moradia das pessoas. Deixar a população
dormindo em ginásios com o frio de menos de 10ºC é um absurdo. Assim como deve
ser utilizado também os estabelecimentos privados de saúde, como a UNIMED e a
Doctor Clin para cuidar dos feridos, sem ressarcimento da prefeitura. Depois,
há de se comprar vacinas e buscar tratamento para as doenças decorrentes dos
alagamentos, como leptospirose, dengue e hepatite. Também é necessário exigirmos
que se abra um processo para punir e confiscar os bens dos responsáveis, seja
por ação ou por missão.
Da mesma forma, os prefeitos da região devem exigir que o Governo Dilma intervenha, editando medidas provisórias contra o desconto no salário dos trabalhadores atingidos pelos dias não trabalhados, o confisco dos prédios desocupados para as famílias dos desabrigados e um grande plano de obras públicas para a reforma das estruturas de drenagem, além da construção do dique do arroio Sapucaia e Carioca (em Esteio e Sapucaia) e um projeto habitacional gratuito para as famílias que vivem em áreas de risco.
Desde o início do segundo mandato da Presidenta Dilma, a ordem do dia é o ajuste fiscal. Com ele, sob o comando da burguesia, o PT vende a ideia de todos darem a sua parcela para a reconstrução do Brasil. Coisas muito duras são exigidas dos trabalhadores. Que os ricos paguem pela solução do problema em Esteio e região!
Da mesma forma, os prefeitos da região devem exigir que o Governo Dilma intervenha, editando medidas provisórias contra o desconto no salário dos trabalhadores atingidos pelos dias não trabalhados, o confisco dos prédios desocupados para as famílias dos desabrigados e um grande plano de obras públicas para a reforma das estruturas de drenagem, além da construção do dique do arroio Sapucaia e Carioca (em Esteio e Sapucaia) e um projeto habitacional gratuito para as famílias que vivem em áreas de risco.
Desde o início do segundo mandato da Presidenta Dilma, a ordem do dia é o ajuste fiscal. Com ele, sob o comando da burguesia, o PT vende a ideia de todos darem a sua parcela para a reconstrução do Brasil. Coisas muito duras são exigidas dos trabalhadores. Que os ricos paguem pela solução do problema em Esteio e região!