Entrevista
com Afonso Martins, Delegado Sindical da CARRIS e militante do PSTU em Porto
Alegre sobre as demissões políticas e a perseguição que estão ocorrendo na
Carris. Afonso como Delegado Sindical está afastado para apuração de Inquérito
Judicial aberto pela empresa para apuração de Falta Greve com o objetivo de
demissão por justa causa.
(Afonso Martins na caminhada dos educadores no dia 18 de agosto)
1) Fale um pouco da sua
trajetória profissional e política?
Afonso Martins: Sou motorista de profissão a pelo menos 35 anos, sindicalista e militante político desde os anos 80. Muito cedo compreendi a importância de estar militando no movimento politico para atingir de fato as mudanças necessárias para avançar não só nas conquistas por mais direitos, mas para construir o socialismo. Depois de romper com a CUT e o PT, hoje sou delegado sindical da Cia Carris, militante do PSTU e da CSP Conlutas .
2) O que ocorreu no dia
3 de agosto e qual a sua avaliação dos motivos que levaram a Carris a fazer as demissões
políticas?
Afonso Martins: Tivemos
um aumento muito grande do número de assaltos nos ônibus da Carris no último
período, linhas da Carris como o T4 e T6 são campeões em número de assaltos,
vinhamos de várias paralisações em terminais na busca por mais segurança no
ambiente de trabalho. Chegamos a ter caso de rodoviários agredidos por
assaltantes e inclusive assédio a cobradoras. A situação estava insuportável
para a categoria. Os Rodoviários estavam com medo e se sentindo inseguros no
seu ambiente de trabalho. É bom que se diga que essas paralisações foram
espontâneas dos próprios rodoviários das linhas que estavam protestando pela
falta de segurança. No dia 03 de agosto depois de uma nota dos órgãos de segurança
pública alertando que neste dia não teria segurança( a polícia civil paralisou atividades no marco da paralisação dos servidores estaduais e a Brigada Militar ficou aquartelada) e pedindo que os trabalhadores não
saíssem de suas casas, somado ao fato de o sindicato da categoria ter
comunicado que faria assembleia nas garagens para discutir com os rodoviários
os problemas de segurança, participamos da assembléia como Delegado sindical
junto com membros da Comissão de Funcionários da Carris e vários rodoviários na
qual foi votado por ampla maioria dos trabalhadores a paralisação naquele dia,
inclusive o sindicato dos policiais civis participou da assembleia expressando
sua solidariedade a paralisação.
A
reação da Carris ao demitir por justa causa 3 rodoviários e abrir inquérito
judicial para demitir os dois delegados sindicais e um dirigente da
Intersindical é dar um golpe no movimento dos trabalhadores rodoviários que tem
sido protagonista nas principais mobilizações que ocorreram em Porto Alegre
entre 2013 e 2015. Particularmente, na Carris , que é a principal garagem.
Querem colocar para fora da empresa os principais dirigentes das últimas
greves. Não podemos aceitar isso.
3) Fale um pouco do
movimento rodoviário que sacudiu Porto Alegre em 2013/2014. Sua Avaliação então é
que estão perseguindo as principais lideranças da greve?
Afonso Martins: Nós,
rodoviários, vinhamos de um processo de adormecimento e isolamento a pelo menos
20 anos. As pessoas não se sentiam representadas e poucas lutas foram
realizadas. A partir de 2013 fruto da unidade construída entre trabalhadores
rodoviários , juventude, estudantes e outros setores promovemos uma série de
embates com a patronal. Debatemos e lutamos sobre diversos temas não só sobre
as nossas pautas da categoria mas inclusive pelo passe livre, a luta contra o
aumento da passagem em 2013. Importante lembrar que nós rodoviários fomos
protagonistas de uma greve de 15 dias em 2014 mostrando toda nossa disposição
de luta. Por estarmos sempre na linha de frente e participando dos espaços de
debates entendemos que as demissões são fruto de perseguição política , uma
tentativa da patronal de calar os lutadores, visto que atingiu os principais
dirigentes da Csp Conlutas, CUT, Intersindical
e da Intersindical vermelha, além de ativistas linha de frente das greves.
É
importante lembrar que a patronal já tentou demitir outras lideranças dos
rodoviários no último período. Os Companheiros Barreto da Tinga e Adaílson da
Trevo foram demitidos e a força da mobilização dos trabalhadores da Tinga
reintegrou o Barreto e conseguimos na justiça a reintegração do Adaílson. Esse
ataque da CARRIS é o maior até agora porque como já afirmamos pega lideranças
de todas as forças políticas que organizam o movimento na garagem.
( Assembléia da Greve dos Rodoviários de 2014)
4) Qual tem sido a
postura do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre ligado a Força Sindical?
Afonso Martins: Estamos
cobrando do sindicato ligado a Força Sindical que se some as diversas
organizações que estão lutando em nossa defesa. Queremos que o sindicato venha
a público se manifestar a nosso favor, mesmo com toda divergência política que
temos.
5) O que já foi feito
até agora e quais os próximos passos da campanha pela readmissão dos demitidos
políticos?
Afonso Martins: Estamos
iniciando uma ampla campanha a nível nacional pela nossa readmissão.
Construímos material de divulgação, adesivos, eventos na internet, ocupamos
espaços de radio e televisão, sindicatos que nos apoiam estão enviando moções
de repúdio as demissões. Tivemos também audiência pública promovida pela
Vereadora Fernanda Melchionna(PSOL) com o Vice Prefeito Sebastião Melo . Neste
momento é muito importante a rede de apoio que se colocou em nossa defesa
entendendo que este ataque não é somente a nós trabalhadores mas ao conjunto
dos lutadores. Estamos discutindo também a possibilidade de um ato do movimento
sindical para denunciar a criminalização dos lutadores.
Modelo de Moção de solidariedade aos trabalhadores rodoviários demitidos
da Carris
Ao Presidente da Carris, Sérgio Zimmermman,
Nós, entidade ou movimento social, nos solidarizamos com os motoristas e
cobradores de Porto Alegre demitidos por participarem da paralisação da
categoria na segunda-feira (03/08), que foi deliberada em assembleia dos
trabalhadores da empresa na mesma data, haja vista o aumento doa assaltos aos
coletivos e a ausência de segurança pública na cidade, em virtude do
aquartelamento da polícia, que protestava contra o parcelamento de seus
salários.
Repudiamos as ações da direção da Carris que, frente as mobilizações que
paralisaram várias linhas nas últimas semanas, não cumpriu seu papel de
garantir segurança aos trabalhadores e agora tenta criminalizar o movimento
legítimo, tratando as lideranças como “associação criminosa” e punindo sete
trabalhadores com demissões e afastamentos absolutamente injustificáveis. Lutar
em defesa de direitos, como adicional de periculosidade e segurança durante a
jornada, não é crime. Fica explícita a perseguição política quando se observa
que os demitidos por (in)justa causa são exatamente os mesmos que fizeram uso
da palavra no carro de som durante a paralisação do dia 03.
Não aceitaremos que a Carris seja palco de repressão, onde
dirigentes sindicais e lideranças entre os trabalhadores são demitidos de forma
autoritária.
Nossa luta não irá cessar até a imediata reintegração de todos os
trabalhadores demitidos e afastados, o fim das perseguições políticas nas
empresas e o atendimento de todas as reivindicações do movimento.
São Paulo, 24/08/2015
Enviar moção para sergio.zimmermann@carris.com.br(presidente da Carris),
sebastiao.melo@gvp.prefpoa.com.br( Vice Prefeito de Porto Alegre),
joel.rech@carris.com.br ( Chefe de Gabinete do Presidente da Carris),
leonardo.coronel@carris.com.br( Chefe de Recursos Humanos) ,
vicentina.pereira@carris.com.br(Gerência de recursos humanos)
Com cópia para albierojr@uol.com.br