9 de set. de 2010

Jornal do Comércio, 08 de setembro de 2010

Julio Flores defende um governo socialista no Estado

Por Josemari Quevedo

O programa de governo do candidato do PSTU ao Palácio Piratini, Julio Flores, apresenta três pontos principais: suspensão do pagamento da dívida do Estado com a União, fim de isenções fiscais para grandes empresas e o combate à sonegação fiscal. Para ele, somente a partir dessa linha programática será possível destinar os recursos que faltam para investimentos em saúde, educação, moradia, infraestrutura e geração de empregos.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Flores também defende mudanças no regime capitalista e no sistema democrático vigentes. "O nosso projeto é a construção de um governo socialista dos trabalhadores, em que os próprios governem." Por isso, se for eleito, o candidato do PSTU pretende criar um conselho popular com funções executivas, legislativas e judiciárias.

Flores propõe ainda que as siglas menores tenham mais espaço na televisão, citando como exemplo a democracia na França, onde partidos grandes e pequenos têm o mesmo tempo para exposição de propostas no horário eleitoral.

Jornal do Comércio - O PSTU se apresenta como uma alternativa ao capitalismo. Qual é o projeto do partido?

Julio Flores - Uma sociedade socialista. Esse regime que está aí beneficia partidos poderosos, da burgeusia, que governam, como PMDB, PSDB, PDT e PT. Nosso projeto é a construção de um governo socialista dos trabalhadores, em que os próprios governem e que não tenham só a cada quatro anos a oportunidade de tirar os políticos. Por isso, propomos que o governo seja exercido a partir de um conselho popular, que teria as funções não só executivas, mas também legislativas e judiciais. A cada momento os representantes do povo poderiam ser destituídos sem precisar esperar quatro anos. E os políticos teriam um salário de operário especializado, que hoje está entre R$ 2 mil e R$ 3 mil.

JC - O mecanismo do impeachment já não cumpre com essa função de destituição?

Flores - Não. Queremos mudar o regime, que se presta à corrupção, a lobbies, a negociações dos grandes partidos, banqueiros e industriais. Há séculos somos governados pelas grandes elites, chegou o momento de uma virada, em que trabalhadores exerçam um governo socialista. Chegou a hora de contrariar interesses de latifundiários e banqueiros e beneficiar os trabalhadores. Os políticos vão para a TV e mostram como resolver o problema da saúde, educação, emprego, repetem isso todos os anos, governam e continua tudo igual. Os trabalhadores podem inverter essa lógica, para garantir saúde, emprego e educação.

JC - Quais suas propostas para o governo do Estado?

Flores - Reorganizar as finanças do Estado, a partir da suspensão do pagamento da dívida com o governo federal, que hoje consome R$ 2 bilhões ao ano. Essa dívida cresceu, em 16 anos, de R$ 5 bilhões para R$ 40 bilhões. Já foi paga diversas vezes. Suspendendo-a, teremos R$ 2 bilhões por ano para investir em saúde e educação. Daria para construir 500 escolas, ou 160 mil moradias populares, ou ainda assentar até 100 mil famílias.

JC - Além da suspensão do pagamento da dívida, quais as outras medidas?

Flores - O fim das isenções fiscais para grandes empresas. Quem precisa de incentivos do Estado é o pequeno empresário. Outro ponto é o combate à sonegação fiscal. A cada real que se arrecada, um outro real é sonegado. Com esses recursos, poderíamos investir em infraestrutura, obras públicas, moradias, gerando milhares de empregos.

JC - E como implementar esse programa de governo?

Flores - Com o capitalismo não podemos resolver os problemas da população. Se continuar o sistema, a fome vai continuar, as guerras e a exploração. Os privilégios dos grandes devem ser invertidos para que os trabalhadores sejam beneficiados. Uma das medidas seria a estatização do sistema financeiro. Outra, a nacionalização da terra. E não é possível ter 130 mil famílias de sem terra enquanto 838 latifúndios no Rio Grande do Sul concentram mais de 2 mil hectares. Temos uns 2 milhões de hectares na mão de meia dúzia de empresas. Essa terra precisa ser redistribuída, de tal maneira que se produza mais alimentos para o trabalhador e não se produza soja para exportação, para alimentar o gado europeu.

JC - Qual sua resposta a quem define suas propostas como anacrônicas?

Flores - O regime capitalista busca cooptar trabalhadores. Talvez Lula (PT) seja o governo que melhor tenha feito isso em benefícios de banqueiros, industriais. Esse processo é trágico para os trabalhadores, porque são R$ 380 bilhões aos banqueiros e R$ 11 bilhões apenas no Bolsa Família. E anacrônico é o capitalismo, tanto é que as crises de 2008 - que não se encerraram, porque foram retomadas na Europa, na Grécia - demonstram que o que está em falência é o sistema capitalista. É um momento de retomarmos as ideias socialistas que de modo algum se desatualizaram. Propomos uma mudança na estrutura social do País.

JC - Qual sua avaliação da democracia brasileira?

Flores - Não existe democracia. Há desigualdade no processo eleitoral, a começar pela lei que define os tempos de televisão e rádio para os partidos. Grandes partidos têm um tempo excessivo na TV, partidos como o PSTU têm um tempo bem menor. Isso reflete a desigualdade na sociedade entre trabalhadores e poderosos. Na França, os tempos de TV e rádio na propaganda eleitoral são iguais, independente do peso que os partidos tenham no Parlamento.

JC - Por que sua candidatura não fez coligações?

Flores - Nossa proposta é a defesa de um projeto socialista, que parta da estatização do sistema financeiro, das multinacionais, da nacionalização da terra, da reforma agrária. Com o P-Sol, lamentavelmente, não teve acordo com esses pontos, porque esse programa poderia impedir a eleição de deputados.

JC - E como está a campanha do PSTU no Estado?

Flores - Percebemos que há cada vez mais aceitação às nossas propostas entre a juventude, trabalhadores e onde chegamos.

Perfil
Julio Cesar Leirias Flores, 51 anos, é natural de São Borja (RS). Graduado em Matemática pela Pucrs, é professor na rede pública estadual e municipal em Porto Alegre. Seu contato com a política se iniciou na infância, quando acompanhava o avô paterno em comícios do PTB, na década de 1960. O avô materno, que participou da Coluna Prestes, também o influenciou. No final dos anos 1970, começou a militar no movimento estudantil. Atuou na resistência à ditadura militar, ajudou organizar o Partido dos Trabalhadores (PT) e participou da criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 1992, foi expulso do PT após o movimento Fora Collor, por divergências com lideranças partidárias em relação ao então presidente da República. Migrou para o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), oficializado em 1994. Foi candidato do PSTU ao Senado, em 1998, à prefeitura de Porto Alegre em 1996 e 2000, a vereador em 2004 e 2008, a deputado estadual em 2006 e ao governo do Estado em 2002 e agora, em 2010.


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