6 de set. de 2016

SOBRE O SILÊNCIO DOS TRAÍDOS


IMPEACHMENT É TROCAR SEIS POR MEIA DÚZIA

Por Aline Costa - Jornalista e Militante do PSTU

As pressões são imensas, o choro é grande, as acusações são várias, as caracterizações sobre quem não acredita em qualquer um desses modelos de Golpe são múltiplas, a impaciência da vanguarda jovem universitária e o oportunismo dos movimentos e partidos reformistas e neo-reformistas imperam, a esquerda que acredita e dissemina a política de manipulação do PT através do chamado "Golpe", pira.

Primeiramente, precisamos ser marxistas. Análises conjunturais não são feitas de maneira mecânica. Não é uma questão de quantas pessoas estão na rua. É preciso fazer uma análise concreta da realidade concreta, sem tentar justificar a política que se pensa ser a mais correta. Se aplica a política depois da análise e não o contrário! Em meio ao caos surgem os mais diversos e oportunos interessados em disputar o poder. Precisamos saber mais das ruas: Quem está lá? Com quem? Fazendo o quê?

O discurso da Ex-presidente Dilma, após o seu afastamento, deixa nítido que não há mais como enganar a classe:

"O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas, direito a uma aposentadoria justa, direito à moradia e à terra, direito à educação, à saúde e à cultura, direito aos jovens de protagonizar a sua própria história, direito dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres, direito de se manifestar sem ser reprimido." (Dilma Rousseff)

Não é preciso pensar muito pra enxergar nas palavras da Ex-presidente quem exatamente aplicou um golpe e quem o recebeu. Quem retirou ou restringiu tais direitos? Porque a maior parte da base social do PT, composta pelos setores mais proles da classe trabalhadora brasileira, rompeu com o partido, deixando espaço para que a direita tradicional, desde sempre reacionária e oportunista, aproveitasse o vácuo para retomada do poder?

A presidente que sancionou leis que retiraram direitos dos trabalhadores, como a alteração do seguro-desemprego, as restrições ao acesso à pensão por morte (que atinge majoritariamente as mulheres), o aumento da idade mínima para aposentadoria, as autorizações à desapropriações de ocupações em favor da especulação imobiliária, o congelamento da Reforma agrária, a retirada de mais de 6 bilhões nos investimentos direcionados à educação e saúde, a ameaça de extinção do Ministério da Cultura (Sim, foi ela quem ameaçou e o Temer executou, enquanto presidente interino, voltando atrás assim que teve mobilizações contra), o decreto que autorizou o exército a patrulhar o Complexo da Maré, matando centenas de jovens negros da periferia do Rio, o veto ao Kit Anti-homofobia nas escolas, afirmando que seria uma "propaganda de opção sexual", a assinatura da Carta de Compromisso contra o aborto, a lei antiterrorismo sancionada com a intenção de reprimir manifestações, é a mesma pessoa que fala que isso tudo será resultado apenas do tal golpe.

Há quem queira ainda manter a política do mal menor e abafar uma das maiores ilusões sofrida pela classe trabalhadora nos últimos tempos. Há quem brade que a população mais pobre vai sair às ruas para defender seu governo traidor. Ledo engano!

Quatorze anos de Frente Popular, com sua política de conciliação de classes, acordos escusos com empresários e patrões e frequente freio nas lutas e mobilizações, não foram suficientes para derrotar a classe. Os trabalhadores e trabalhadoras (muito mais da metade da população brasileira), descrentes nos políticos, na política, ou em como fazer para derrubar os poderosos desse país, simplesmente se retiraram em silêncio. Deixaram o PT cair. Não estão rindo, nem chorando. Estão querendo apenas manter seus direitos conquistados a duras penas. E já sabem que os mesmos ataques vindos do governo, que a principio tinham como seu, virão ainda com mais força por aqueles que querem dar provas de que conseguem esgoelar ainda mais os trabalhadores em nome do lucro que precisam garantir aos grandes empresários e banqueiros.

Na música o silêncio é um elemento importante da partitura. Representa algo significativo. Na conjuntura política atual, a orquestra dos de cima não ouve sequer os gritos dos debaixo, quanto mais o seu silêncio. Um silêncio de quem já não crê que esses que aí estão possam mudar sua vida, já que os inimigos são velhos conhecidos e os que pareciam amigos dos trabalhadores, na verdade nunca foram.

Aqueles que lutam pela emancipação da classe escutam o silêncio (grito preso) do povo pobre, da juventude negra, das LGBTs, das trabalhadoras e trabalhadores mais explorados e oprimidos que, como bem disse Vinícius de morais no Operário em Construção, é um silêncio de martírio, um silêncio de prisão.

Esse silêncio, assim como na música, se desdobrará em outros sons e comporá uma melodia, primeiro de alívio por poder ver aqueles que traíram caírem e depois de luta para avançar na derrubada dos que ficam no lugar de quem saiu. É esse o sentimento da Classe! Suas bandeiras vão levantar de verdade quando sentirem que estão lutando contra os ataques aos seus direitos, mas sem defender os que os traíram.

Até agora os que estão saindo em manifestações pelas ruas de várias capitais do país, fazem isso contra um suposto "golpe". Fazem em favor da "democracia". Reforçam a política do PT de tentar recaptar sua base perdida para ter força de se colocar novamente no poder. Nós dizemos NÃO! Não mais ilusões! 

A audição e o olhar de quem luta pela nossa classe precisa ser de baixo pra cima. Ficar na análise dos campos burgueses, teorizando sobre quem joga mais sujo, não só não eleva a luta de classes, como ajuda na política de apoio a um governo que nem de perto representa a classe. Esse, definitivamente, não é o campo das lutas dos trabalhadores!

Fora Temer! Fora Todos Eles! 

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