1 de jul. de 2014

Enchentes no Rio Grande do Sul é mais um exemplo de descaso dos governantes


Os governantes e a grande imprensa se apressam em afirmar que as enchentes são imprevisíveis e que são tragédias ocasionais

Vera Guasso - Pré-candidata à Deputada Estadual pela Frente de Esquerda PSTU/PSOL

O último levantamento realizado pela Defesa Civil registra em 89 o número de municípios afetados pelas enchentes, com 25 em situação de emergência e o município de Iraí em situação de calamidade pública. No total, são pelo menos 8.598 vítimas, contabilizando só os casos mais graves em que as pessoas estão totalmente desabrigadas (com mínimas de 7° que tem feito aqui no Sul). Felizmente, algumas famílias conseguem recorrer a parentes e amigos. Foram mais de 20 rodovias interditas por causa de crateras ou alagamentos e até a Receita Federal não conseguiu manter as ações de combate ao contrabando na fronteira do país.


Entenda onde fica a região norte e noroeste do Estado e como se desenvolveram as enchentes

Fatalidade?

Os governantes e a grande imprensa se apressam em afirmar que as enchentes são imprevisíveis e que são tragédias ocasionais. Isso é uma tentativa de, principalmente em ano de eleição, o governador e os prefeitos se absolverem da culpa e omissão. Afinal, sempre nessa época do ano temos situações de enchentes no Rio Grande do Sul.

Elas ocorrem porque chove, os rios enchem e não há planejamento e obras públicas de controle do escoamento fluvial. A falta de coleta de lixo e saneamento básico ajudam a entupir os bueiros e os riachos, muitas vezes poluídos pelas empresas, e que atrasam a vazão e deixam a situação ainda pior. Além do mais, nos grandes centros urbanos os “banhados” (terrenos alagados) são material fértil na mão da especulação imobiliária que, sem nenhuma dor na consciência e com o aval das prefeituras, constroem em áreas impróprias.

E é justamente nesses bairros e conjuntos habitacionais mais populares que as enchentes são comuns também nos grandes centros urbanos. Todas as cidades da região metropolitana – e a própria capital – possuem bairros e regiões alagam todos os anos. Sempre em regiões mais de periferia, fazendo das famílias de trabalhadores as que mais sofrem com os prejuízos e traumas.

Enquanto a sociedade não desenvolver tecnologia para controlar plenamente as chuvas, rios e a natureza, pode acontecer de os rios encherem. O que é inconcebível é que mais de 80 cidades e 8.500 pessoas sejam vítimas de forma tão brutal desse desastre. Em alguns lugares é ainda pior, com vítimas fatais, como as terríveis enchentes no Rio de Janeiro (leia mais aqui), que mataram e continuam matando centenas de pessoas.

Além dessas omissões por parte dos governos, a situação de desgraça que os trabalhadores gaúchos estão passando são resultado da falta de um plano (com investimento maciço para concretizá-lo) de prevenção de enchentes e desastres.  

As prefeituras, o governo do Estado e o governo Federal são responsáveis pelo drama das famílias trabalhadoras gaúchas


Nós do PSTU nos solidarizamos com a situação de risco e trauma pela qual as comunidades gaúchas do noroeste e norte do estado estão vivendo. Em nossa opinião, os grandes culpados são os governantes omissos e indiferentes. Se as enchentes fossem próximas de suas casas, certamente já teriam dado um jeito. Mas os governantes moram em bairros desenvolvidos, das elites, onde as enchentes não os atingem. Ao acontecer a mesma coisa todo ano, vemos que a irresponsabilidade e descaso dos governos não tem limites.

Frente à pressão da opinião pública, o Governador Tarso Genro desembarcou hoje em Iraí (a cidade mais afetada) e prometeu tomar algumas iniciativas de urgência, como a liberação de crédito às famílias e auxílio aluguel, mas não emitiu uma palavra sobre iniciativas que resolvam concretamente o problema das enchentes. O Partido dos Trabalhadores se limitou a emitir uma nota afirmando que a agenda de campanha do Presidente do PT, Ary Vanazzi, vai se alterar, não indo mais para a região das enchentes.

É preciso exigir dos governantes que, em primeiro lugar, isentem os desabrigados das tarifas públicas de luz, IPTU, água e outras taxas, tendo o direito de permanecerem em hotéis não afetados até a construção de suas casas. Ao mesmo tempo, construam casas em locais seguros para todos os desabrigados e liberem, em caráter emergencial, R$ 10 mil para todos os atingidos, independentemente de FGTS.

Temos que exigir, principalmente, que proibam as empreiteiras de construir em local impróprio e construam um plano de obras públicas para evitar futuras enchentes, protegendo, dessa forma, as famílias trabalhadoras.

Más notícias à vista

Especialistas em metereologia[1] afirmam que deve chover forte no estado nessa próxima quinta feira e também domingo. Afirmam também que as cheias, que agora estão na cabeceira do Rio Uruguai, devem seguir para seus afluentes[2] e que poderemos ver novas cheias na região sudoeste do estado.

Tudo indica que o problema das enchentes está só começando nesse inverno gaudério e são as famílias mais pobres as que mais vão pagar a pena, caso os governantes não ajam rápido em favor delas.



[1] Metereologia é um campo da ciência que estuda entre outras coisas a temperatura, a possibilidade de chuvas, a umidade do ar, as condições climáticas resumindo.
[2] Afluentes são rios menores que os rios principais, para onde as águas escorrem em busca do oceano.